Quando eu era estudante de pós-graduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no final dos anos 1980, me perguntavam o que um engenheiro – e de pesca, para mais estranhamento ainda – podia estudar no Departamento de Jornalismo. Claro que eu explicava e, ao que parece, a contento, a partir do meu objeto de pesquisa sobre as estratégias de comunicação utilizadas pela Marinha de Guerra do Brasil, para organizar os pescadores em colônias, ao longo da costa nacional, no início do século XX. No campo da História e Comunicação, portanto, uma das áreas de pesquisa daquele Departamento.
Atravessei décadas a fio, ao lado de colegas, explicando aos interessados sobre o que fazer da Engenharia de Pesca. Tal como emitimos sonoridade aleatória a uma palavra que não dominamos noutra língua, assim se comportavam nossos interlocutores ao tomar conhecimento dessa profissão. Ouvi, ao longo dos 50 anos da Engenharia de Pesca no Brasil, se eu, profissional do ramo, exercia atividades de mergulhador (escafandrista), se eu pescava com rede ou com vara, se surfava, ou, simplesmente, solicitavam confirmação: Engenharia de “Peça?”
Como se trata de uma carreira ainda jovem no país, é natural que essas sonoridades e sotaques acontecessem (e ainda acontecem), entre tantas outras curiosidades sobre os habitantes das águas do mar, das águas interiores e das águas continentais.
O livro A Engenharia de Pesca em Pernambuco, com lançamento no dia 15 de dezembro próximo, vide expediente abaixo, vem suprir uma lacuna no circuito editorial de livros especializados.
São 15 capítulos escritos por 34 engenheiros e engenheiras de pesca, de diferentes gerações e com alto nível de especialização, em universidades brasileiras e estrangeiras. Todos graduados na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), pioneira na criação dos cursos de Engenharia de Pesca no país.
Organizado por Sérgio Macedo Gomes de Mattos, Maria do Carmo Figueredo Soares, Leonardo Teixeira Sales e por mim, a obra aborda desde as vigas mestras da Engenharia de Pesca – o extrativismo pesqueiro (pesca oceânica, artesanal, continental) e a aquicultura (cultivo de peixes, inclusive ornamentais, camarão, moluscos, algas, entre outros) –, até temas emergentes, como a Agroecologia, na sua relação com a aquicultura sustentável. As tecnologias de pesca, o impacto ambiental em corpos d’água, o licenciamento ambiental à pesca e à aquicultura formam, ao lado da gestão dos recursos e territórios pesqueiros, entre outros componentes, a argamassa do livro A Engenharia de Pesca em Pernambuco.
O lançamento dessa obra coincide com os compromissos inarredáveis contra a fome e a miséria no Brasil e no mundo, refletidos na Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, aprovada na 19ª Reunião de Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, em novembro último.
A Engenharia de Pesca, nas suas atribuições centrais, de produzir alimento por meio do aproveitamento dos recursos naturais aquícolas e da exploração sustentável dos recursos pesqueiros marítimos, traz, por assim dizer, com A Engenharia de Pesca em Pernambuco, sua contribuição de 50 anos ao debate sobre a erradicação da insegurança alimentar no Brasil. Ao tempo em que se vê interpelada pelos desafios emergenciais do Século XXI, diante dos 2,33 bilhões de pessoas no mundo sem acesso a alimentos adequados (ONU, 2023).
Numa iniciativa da Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco (AEP-PE), com o patrocínio do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Crea) e Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea (Mútua), A Engenharia de Pesca em Pernambuco interessa a empresários, gestores de organizações governamentais e não governamentais, pesquisadores, professores, estudantes de graduação e pós-graduação e ao público em geral que desejem pronunciar com fluência o que fazer contemporâneo da Engenharia de Pesca no Brasil.
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Ele é Doutor em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, com pós-doutorado em História e Cinema pela Universidade Nova Lisboa.
Imagem de abertura do texto, acrílica sobre tela de 2024, 20cm x 15cm, da Série Engenharia de Pesca no Século XXI; pintura assinada por Angelo Brás Fernandes Callou: divulgação.
Demais imagens: divulgação.
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