Na minha percepção, 2024 foi um ano de tentativas, um ano de experimentar trabalhar coletivamente, através das iniciativas promovidas por galerias e por artistas. Houve o esforço de reposicionamento diante das condições de comercialização da Arte, local e nacionalmente.

A nova edição da Arte*Pe – Feira de Arte Contemporânea de Pernambuco, e a inauguração da Galeria RAIZ, importante coletivo de artistas visuais do Recife, são alguns exemplos dessas experiências ocorridas em 2024, ambas em junho.

Para mim, foram dias de muito trabalho interno, no ateliê, e de contato com o movimento artístico da cidade, já que vivenciar o agrupamento é algo que considero essencial na vida e na produção de Arte. Imerso nesse contexto, tenho procurado compreender o meu lugar: onde estou e para onde eu vou.

Para 2025 não espero nada menos que muito trabalho, pois estamos atravessando um momento muito difícil na política nacional e internacional, que certamente afetará a Arte e os artistas.

O avanço do extremismo de direita no mundo e, consequentemente, no Brasil, cobrará posições firmes dos artistas progressistas. Será de fundamental importância a continuação dos debates e lutas em prol da coletividade, para evitar mais retrocessos em nosso campo.

Particularmente, estou planejando fazer uma exposição individual no segundo semestre. Quero expor o acúmulo de produção dos últimos quatro anos, um recorte da minha chegada em Recife e da minha adaptação como artista.

Samuel Persio nasceu em 11 de maio de 1982, em Araucária, Paraná.

É filho de Maria Augusta, trabalhadora doméstica, e Marcílio Persio, ferroviário e pedreiro.

Viveu até os oito anos em Araucária, quando mudou-se para a cidade de Valinhos, São Paulo. Lá, o pai deixa de trabalhar como ferroviário e passa dedicar-se integralmente ao ofício de pedreiro, profissão que herda, que marca sua trajetória de vida e onde adquire a maior parte dos saberes que aplica no fazer artístico. ‘Ser pedreiro é sair do imaginário para concretude da construção de sentido da vida’, diz.

Os contatos imediatos de 1º grau com a Arte se deram no colégio; em 1998 fez curso de desenho na Casa da Cultura de Valinhos.

Samuel desenha, pinta, esculpe e escreve, sempre conciliando as suas atividades lúdicas, chamemos assim, com a construção civil.

A trajetória dele também inclui a participação em movimentos sociais e o desenvolvimento de técnicas artísticas em colaboração com outros trabalhadores das Artes.

Samuel afirma-se Duo: identidade que é a soma do ser pedreiro e do ser artista – o que desafia a fragmentação social, celebra os saberes ancestrais e da classe trabalhadora.

Intitula-se artista coletor.

Como migrante, questiona e reflete em seu fazer artístico a relação com a localidade – utiliza objetos descartados nas áreas públicas. Compreende o território pelos objetos que nele foram jogados, esquecidos, rejeitados.

As relocações constantes o permitiram, ou pelo menos facilitaram, exercitar a liberdade de pensar sem amarras as regras e modismos, em desrespeito as hierarquias. É rizomático. Cria a partir das relações humanas que o atravessam no dia a dia e dos pensamentos que surgem no processo de individuação.

Fotos de Samuel Persio e seus trabalhos: divulgação.

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Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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