Fruto de pesquisa que mapeou iniciativas museais em oito residências localizadas em várias cidades pernambucanas, Museus Domiciliares será apresentado (gratuitamente) ao público nesta quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025, às 15h, no Memorial da Democracia de Pernambuco, no Sítio Trindade, Casa Amarela, Recife.
Lá, serão exibidos os oito episódios da websérie sobre os espaços e suas coleções, e também ocorrerá a distribuição (gratuita) do livro com os resultados da investigação – em conversa com a equipe, os presentes poderão inteirar-se sobre o processo e as experiências da iniciativa.
Desenvolvido ao longo de 2023 e 2024, a partir de vasta pesquisa bibliográfica e de campo, com uma série de entrevistas realizadas, o projeto nasceu do desejo de entender mais esses espaços pouco ou não reconhecidos por uma ideia convencional de museu.
A diligência conduzida pelos pesquisadores Bruna Rafaella Ferrer, Guilherme Benzaquen e Marcela Lins conceituou os Museus Domiciliares como locais dedicados à construção e organização de acervos, que são residências de seus fundadores/gestores e têm vocação aberta ao público, de partilha de memória, e a hospitalidade e o diálogo como práticas fundamentais.
Tais parâmetros, no entanto, não desconsideram a heterogeneidade de cada iniciativa, acolhendo e ressaltando, igualmente, suas particularidades.
E onde ficam esses Museus Domiciliares?
CSA Yvy Porã, Paudalho; Marco Zero, Carpina; Biblioteca José Ayres dos Prazeres, Vitória de Santo Antão; Museu Ivo Lopes e Riso da Terra, Arcoverde; Zé Bezerra, Buíque; Museu do Cavalo Marinho Tira-Teima de Zé de Bibi, Glória do Goitá, e Casa de Seu Chagas, Ilha do Massangano, Petrolina.
‘Alguns dos espaços já estão no processo de incorporação da noção de museu para as suas práticas, em diálogo com a Museologia, enquanto outros, não, porque não abraçam essa definição, por acharem que se trata de uma ideia mais específica, tradicional, histórica, de guardar coisas antigas. Então, também se busca disputar essa ideia mais tradicional de museu; pensar como essas práticas de musealização, construção de memória, podem ser diversas. Esta é uma contribuição interessante da pesquisa: auxiliar no processo de valorização de práticas que são muito importantes em seus âmbitos locais e conseguem se transformar em centros de diálogo e disseminação’, diz Guilherme Benzaquen.
Intenciona-se contribuir de forma significativa para revelar e difundir os Museus Domiciliares como espaços vivos e autônomos de salvaguarda, produção e propagação de conhecimento acerca das manifestações e memória da cultura popular do estado.
As visitas revelaram um aspecto fundamental que une essas iniciativas: a fusão entre as práticas cotidianas e o compromisso com a memória e a cultura. Seja na preservação de sementes crioulas no CSA Yvy Porã (Casa das Sementes Temity Jara) e Riso da Terra, na celebração do coco no Museu Ivo Lopes ou na curadoria de objetos históricos no Marco Zero, esses lugares não apenas guardam acervos, operam como locais vivos de produção cultural, onde histórias individuais e coletivas estão em constante diálogo.
‘Fomos em busca de espaços fora dos grandes centros urbanos e observamos que são práticas de vida nesses territórios, com diferentes maneiras de organizar, produzir, manter coleções e uma mediação, um contato com o público. Um modo de partilha que borra um pouco as fronteiras entre público e privado. Procuramos observar o que há em comum com a prática museal tradicional, mas, na verdade, o projeto parte do que diferencia. A intenção não é, a partir desse estudo, definir ou classificar essas casas como Museus Domiciliares. Na verdade, queremos mais questionar e refletir sobre um conceito eurocêntrico na concepção de museu vigente’, aponta Bruna Rafaella Ferrer.
Nesse processo, as coleções encontradas revelam as inúmeras possibilidades dos Museus Domiciliares: passam não só por objetos pessoais e/ou sagrados, fotografias, obras de arte, itens que estão nas famílias por gerações, pela dança, música, como também, como no caso das sementes, pela ecologia – cujo prefixo vem do grego oikos, que significa casa ou lugar onde se vive.
‘São espaços que fazem pensar outras formas de se elaborar uma expografia, uma curadoria, uma mediação. Acho que esses espaços trazem uma força e uma riqueza para o debate da Museologia por apresentar para a gente outras soluções nessas três grandes frentes. Esse movimento de conceber outras formas de museu não é uma novidade; está muito bem sedimentado na própria Museologia, mas acho que o grande trunfo desse projeto é trazer esse olhar a partir desses espaços que também são casas. É uma ideia diferente da casa-museu (ou museu-casa), como as de Rui Barbosa ou Getúlio Vargas, por exemplo, que não são mais residências. Nós temos olhado para esses espaços que têm a hospitalidade como traço definidor’, diz Marcela Lins.
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A websérie e a versão digital do livro estão disponíveis nas redes sociais: youtube.com/@museusdomiciliares e @museusdomiciliares.
E…
Leonardo Lacca assina a direção de fotografia, Isabela Stampanoni a edição dos vídeos e Lúcia Padilha a coordenação de produção.
Museus Domiciliares tem incentivo do Funcultura, através da Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco e Governo de Pernambuco.
Foto em destaque do Museu do Cavalo Marinho Tira-Teima de Zé de Bibi, em Glória do Goitá: Lúcia Padilha.
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