Ao anoitecer, com a mudança feita e tudo mais ou menos no seu devido lugar, pensou em como seria difícil dormir no quarto novo ainda sem a cortina. A claridade certamente atrapalharia o seu sono, embora o ar condicionado, já instalado, fosse uma garantia contra o calor.
Tomada pelo cansaço de um dia inteiro de arrumação, apagou a luz e deitou. Raios prateados pousaram em cima da cama. Era a Lua cheia. A mais bela de todas, que lhe fez companhia e velou o seu sono.
De manhã, os raios de sol entraram quarto adentro sem cerimônia. Ela olhou pela janela e viu o céu mais azul de sua vida. A manhã mais luminosa. E assim foi. Dia após dia.
Outros itens para a casa foram se tornando mais urgentes e a escolha da cortina acabou sendo adiada. A decoração do apartamento ficou pronta, mas nada do toque final no quarto.
Resolveu, então, ir até a loja. Escolheu o modelo, o tecido e os acessórios para a cortina. Dias depois, a peça ficou pronta e foi devidamente instalada. Adormeceu em seu quarto novo.
O Sol já brilhava forte, na manhã seguinte, quando ela abriu os olhos e se viu na mais completa escuridão. Seria dia ou noite? Esbarrou no obscuro. Tateou no breu.
Ainda em casa, estranhou a falta de energia. Uma indisposição se fez presente ao longo das horas de trabalho. Sentiu baixo astral à tarde, melancolia ao anoitecer…
O tempo foi passando, e como os sintomas persistiram, ela decidiu procurar ajuda profissional. Chegou ao consultório já prevendo o diagnóstico de algum dos males da vida moderna.
– Estresse? Depressão, doutor?
O médico foi taxativo:
– Abstinência de luz.
Sua cortina blackout amanheceu aberta no dia seguinte.
Imagens: divulgação.
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