Chegar era sempre uma alegria. Estava de volta ao tempo natural das coisas. De volta às paisagens, ao silêncio, aos queijos, doces e biscoitos. Ansiosa pelo friozinho, pelo céu absurdamente estrelado.
Abria janelas e portas para arejar o ambiente, quando ouviu palmas no portão. Seu amigo Gregório era sempre o primeiro a aparecer ao mínimo sinal de movimento na casa. Desta vez, ele trazia uma má notícia. A árvore, que ela costumava chamar de sua, havia sido derrubada. O jatobá de sombra generosa, frutos e flores.
Saíram os dois, apressados, ladeira acima. Avistou, ao longe, a construção que ocupava todo o terreno. A bela árvore centenária não havia sido poupada.
Um misto de tristeza e revolta tomou conta do seu coração. “E você não fez nada?” O amigo, de tantas temporadas, ficou sem graça. Gregório tinha nome de poeta, mas não podia ser chamado pela alcunha de “Boca do Inferno”. A indignação dele era contida, pra dentro.
Paisagens, silêncio e guloseimas ficaram em segundo plano. Os dias foram dedicados a preparar um protesto pela derrubada do jatobá. Ela criou um grupo num aplicativo de mensagens, contatou alguns ambientalistas, fez cartazes, imprimiu as tantas fotos tiradas à sombra da árvore. Gregório observava a amiga com preocupação. Ele também estava abalado, mas temia criar inimizades ao denunciar o crime ambiental.
A caminhada, do terreno até a prefeitura, começou pequena, mas foi crescendo e ficando mais barulhenta ao longo do percurso. O representante da Secretaria de Meio Ambiente disse que receberia uma comissão de manifestantes. Ela puxou Gregório pelo braço para que o amigo fizesse parte do grupo. Mas ele, que não se rebelava, não criticava e não desafiava, se esquivou.
O encontro foi rápido. Receberam a promessa de que o caso seria apurado, de acordo com o que previa a legislação ambiental. Ela chorou. Seguiu para casa com a certeza do dever cumprido. Gregório foi junto, calado. Ele não fazia jus ao nome do poeta.
Uma foto do jatobá em floração ganhou destaque na parede sala. O triste episódio mudaria para sempre a sua relação com a cidade, onde passava férias, e com o amigo, que insistia em cruzar os braços. Tempos difíceis, até mesmo sob o céu estrelado.
Imagens: divulgação.
Adorei, Dani! Sangue de poetisa correndo nas veias! Parabéns!
Parabéns, Dani. Adorei