Procura-se o Recife de Wilson Carneiro da Cunha, fotógrafo que passou 40 anos a registrar a vida recifense a partir do Centro, área onde montou seu estúdio-escritório-comércio, o Kiosque do Wilson, e fez da venda dos ‘instantâneos’ o seu negócio.

Milhares de pessoas entre as décadas de 1950, 1960 e 1970 requisitaram os serviços por ele oferecidos: fotos para documentos, casamento, imagens turísticas.

Posto de observação

Mas, a localização estratégica do Kiosque – no oitão da igreja de Santo Antônio, na então movimentada Rua Nova, rendeu flagrantes inusitados, quase impossíveis, como uma foto já famosa de um batedor de carteiras em ação e até um desfile de elefantes.

Também ficou conhecido pelos chamados instantâneos de rua, cujos protagonistas eram passantes elegantemente vestidos, famílias em momento de lazer – um costume da época.

E agora…

Passados mais de 30 anos do fechamento do Kiosque e da sua morte, em 1986, um projeto liderado pela arte educadora Bia Lima, neta de Wilson, procura rastrear em acervos particulares os registros feitos pelo fotógrafo que hoje podem estar em caixas e álbuns de família, guardando as memórias felizes de seus inúmeros clientes e, consequentemente, do já longínquo Recife do século XX.

É relativamente fácil reconhecer uma foto dele. Depois de reveladas, todas eram devidamente creditadas com assinatura Wilson ou Foto Instantâneo Wilson ou ainda Kiosque do Wilson em marca d’água no canto inferior – também adotou carimbos no verso. São essas marcas de assinatura ou carimbo, em vários modelos, que a equipe do projeto procura.

Atenção, atenção!!!

O chamamento é abrangente, assim como a sua atuação profissional. Wilson trabalhou para todos os jornais e revistas da época e fez muitíssimos instantâneos de rua sem distinção de classe social: capturou moradores de rua, trabalhadores e comerciantes ambulantes.

Não deixou de fora a arquitetura da cidade, as pontes, a destruição promovida por prefeitos e os acontecimentos sociais da província, tais como concursos de misses e festas em clubes.

Para os periódicos, cobriu as visitas da Rainha Elizabeth II e dos presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart a nossa capital. “Meu avô registrava todo seu cotidiano. Até para ir à padaria, levava a câmera pendurada no pescoço. Eu não o conheci pessoalmente. Desde que eu tomei conhecimento do acervo, foi uma surpresa ver a importância que ele tem para a história da cidade. Está sendo um processo bem intenso para mim, de confrontar as imagens e poder conhecer meu avô por meio das escolhas fotográficas que ele fez. Eu também trabalho com imagens e me identifico com o olhar dele, entendo os enquadramentos e as escolhas que ele fez. De certa forma me reconheço”, destaca Bia Lima.

Mapeamento

Wilson Carneiro da Cunha: Do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros pretende mapear e sistematizar o acervo produzido durante os 30 anos de profissão de Wilson, também conhecido como ‘o fotógrafo da cidade’, e depois devolver esse material ao público em forma de acervo digital de acesso gratuito.

A produção de retratos urbanos de WCC é grande – a maior parte, mais de 1.000, está disponível para pesquisa na Fundação Joaquim Nabuco desde a década de 1970.

Já o acervo da família, sob a guarda da filha mais velha, Olegária Carneiro da Cunha, contém mais de 700 imagens, papel e negativos, onde são encontrados o cotidiano ‘congelado’ dos Carneiro da Cunha: viagens, passeios e cenas que revelam modos e lugares que hoje só podemos acessar através desses importantes fragmentos.

Revelação

Ele nasceu em 1919 e começou a fotografar profissionalmente aos 24 anos. Trabalhou em outros serviços, mas foi na fotografia que estabeleceu sua renda familiar. Em 1950, aproximadamente, inaugurou o Kiosque do Wilson, seu comércio e expositor de imagens.

A ideia de escrever Kiosque com K foi da esposa, Maria Conceição, ela que, desde o início, colaborava no processo de revelação – que se dava no quintal de casa.

O Kiosque do Wilson tornou-se um espaço atípico em meio aos comércios populares da área: dentro, ele expunha permanentemente suas fotos, o que chamava atenção das pessoas que paravam para admirar e/ou acertar a contratação dos serviços.

Quer entrar em contato? Quer contribuir?

Anota o e-mail: projetowcc@gmail.com. Ou envia mensagem direta pelo Instagram @kiosquedowilson.

Imagens: divulgação.

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Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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