Foi não foi, em encontros furtivos n’alguma exposição, teatro, cinema, furdunço, inferninhos da cidade do Recife, encontro pessoas amigas que se dizem desoladas pelo aspecto de terra arrasada dos veículos de imprensa em Pernambuco. Sim, eu concordo e lamento. Sobretudo, pelo fim dos espaços para notícias, entrevistas e fotos da programação cultural. Sempre me perguntam: Ana, o que tem para fazer no Recife hoje?
Tive o prazer de presenciar recentemente a abertura do VIII Congresso Internacional SESC de Arte|Educação na Universidade Federal de Pernambuco. Fui como palhaça convidada para receber pensantes de vários lugares do Brasil, com a presença maciça de professoras e professores de municípios pernambucanos e estados vizinhos. Missão cumprida, tirei a máscara e sentei à paisana para aproveitar o Congresso. Após a solenidade de abertura, na Concha Acústica da UFPE, tivemos a apresentação da Orquestra dos Meninos e Meninas de São Caetano. E, em seguida, a conferência Criatividade Coletiva: Arte e Educação no Século XXI, com ANA MAE BARBOSA. As maiúsculas são propositais. A despeito de seus tantos títulos, entre eles, o de doutora honoris causa da UFPE, eu prefiro me referir a ela como a sacerdotisa da Arte|Educação no Brasil. Se você está lendo esse nome pela primeira vez, por favor, pesquise-o. Vai achar, além de biografia e bibliografia, informações sobre o grande legado de Ana Mae ao Ensino e Aprendizagem da Arte: a abordagem triangular.
Dito isto, retomo o primeiro parágrafo. Em outras épocas, veículos de imprensa estampariam matérias antes e durante este Congresso Internacional de Arte|Educação, haja vista a tempestade de temas que emergem das atividades da rica programação. Vamos aos números: 2 conferências, 14 mesas, lançamento de livros (vários), apresentações artísticas, comunicações orais, 38 cursos nas diversas Pedagogias (Literatura, Teatro, Dança, Música, Performance, Audiovisual, Artes Visuais, Circo) e de pedagogias diversas, como Patrimônios Culturais, Culturas Populares, Arteterapia, Economia da Cultura, Saberes Ancestrais, Criação Cultural e Tecnologia e Paulo Freire. Sim, sobre este, especificamente, tivemos um curso com o tema PAULO FREIRE: do conceito de “palavra-mundo” ao sujeito fazedor de história. Uma riqueza.
Ana Mae Barbosa esteve aqui, dando sopa, durante uma semana, meus amores. 86 anos.
VESTÍGIOS – Este ano, os homenageados do Congresso foram os mestres na Arte|Educação Fernando Azevedo, professor, filósofo, escritor e João Denys Araújo Leite, professor, escritor, dramaturgo, encenador, cenógrafo, iluminador, maquiador, figurinista, programador visual, artista plástico. João Denys, como é mais conhecido, foi professor de gerações de artistas do Recife, os formados em Artes Cênicas ou Teatro na UFPE.
João Denys assina a expografia e a curadoria da exposição Vestígios do Amanhã, inaugurada esses dias no Centro de Artes e Comunicação (CAC) da Universidade. “Uma instalação labiríntica/circense com bonecos, fotografias e textos que fazem ressurgir e re-instaurar a utopia de um mundo mais consciente, justo e alegre, por meio dos vestígios das personagens das peças que fizeram parte do repertório do Teatroneco por quase três décadas”, define o curador.
São mais de 70 bonecos, entre os quais, alguns colecionados por Madre Armia Escobar Duarte, fundadora do Teatroneco, em 1968, esculpidos por Mestre Solon, Mestre Boca Rica, material trazido à luz por João Denys e Manuel Carlos, este também bonequeiro do Teatroneco, responsável pela restauração dos vestígios. O Teatroneco foi o Grupo Profissional de Teatro de Bonecos do Cecosne (Centro Educativo de Comunicação Social do Nordeste) mantido durante anos pela Congregação de Santa Doroteia na Madalena (Recife), onde João Denys atuou, numa época em que os veículos de imprensa noticiavam, com a profundidade merecida, a programação cultural do Recife, aquelas com propósitos educativos, terapêuticos e artísticos. A exposição segue em cartaz até final de agosto na Galeria Capibaribe, no CAC (UFPE).
Fotos: Ana Nogueira.
Link para mais fotos e vídeos:
https://drive.google.com/drive/folders/1DSHsOLPvqiNKORwiKLD7yQ1Sbv966Mxo?usp=drive_link
Ana Nogueira o que tem pra fazer no Recife? Tenho certeza que a melhor resposta e também a melhor escrita será a sua. Se os veículos de imprensa só se preocupam com as tragédias, contamos com artistas, jornalistas, educadores como vocês para nos salvar. “Só a arte tira a coisa ruim das pessoas.” Rsrs. Muito obrigada!🙏
É isso, Bel. Sigamos na Lida. Somos rio e somos mar. Beijo grande e grata pela leitura.
Que delícia de texto e que alegria saber que a informação circula, independente dos grandes veículos. No eixo sul-sudeste também há pouca divulgação de eventos assim. O cidadão emancipado , no entanto, não se deixa vencer. Viva a Cultura!
Viva!
Ana Nogueira, que riqueza de texto! Deu saudade dos seus, no jornal. E vou pesquisar, sim, sobre Ana Mae Barbosa. Você despertou curiosidades. Maravilha!
oh, minha querida editora. saudades de trabalhar ao teu lado. grata pela leitura. bjs