Apresentador do telejornal Em Pauta da Globo News conta sua experiência pessoal como gay e faz um painel da LGBT fobia no país, com entrevistas com médico, psiquiatra, advogado, políticos e alguns LGBTs

Muito se falou sobre o orgulho LGBTQIA+ no mês passado, para lembrarmos do dia 27 de junho de 1969 quando gays, lésbicas e travestis se revoltaram contra a violência de policiais, que invariavelmente invadiam o bar Stonewall, em Nova York, para agredir os frequentadores. A data passou a ser um marco histórico da luta por direitos da comunidade LGBTQIA+ — lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e todas as pessoas das diversas orientações sexuais e identidades de gênero.

E é preciso que se fale muito sobre a intolerância, o desrespeito e o preconceito, principalmente no Brasil, um dos países que mais mata pessoas da comunidade LGBTQIA+. Marcelo Cosme, jornalista e apresentador do telejornal Em Pauta da Globo News, se debruçou sobre o tema e lançou, pela editora Planeta, Talvez você seja… um verdadeiro painel sobre a LGBT fobia no país, com entrevistas com médicos, psiquiatras, advogados, políticos e alguns LGBTs, além seu relato pessoal.

Mais do que apresentar dados e fatos sobre a intolerância e o preconceito à comunidade LGBT no Brasil — o livro tem um subtítulo esclarecedor, Desconstruindo a LGBT fobia que você nem sabe que tem —, o autor deseja com sua obra provocar e fazer com que cada um de nós, seus leitores, possa olhar para dentro de si e entender o seu comportamento, avaliar suas posturas. O livro traz, na orelha, um depoimento da jornalista Zileide Silva, que além de contar sua relação pessoal com o autor, é taxativa:

“Queria tanto que este livro não fosse necessário. Mas é. E será, como Marcelo escreve, até que os direitos sejam iguais, a violência acabe, o preconceito se desfaça. Talvez você seja é um livro que poderia, que deveria ser adotado nas escolas para ajudar a levantar uma discussão ainda tão importante. Uma luta de todos nós. A luta por direitos. A luta por respeito.”

O cantor e compositor Lulu Santos, no prefácio, também conta de sua dificuldade em se assumir gay e como o filme sobre a vida do ativista norte-americano Harvey Milk funcionou como um gatilho para a sua conscientização de “que direitos de gênero são direitos humanos”. Ele espera que o livro de Cosme exerça este mesmo fascínio aos leitores.

Na introdução do livro, Cosme começa com a frase ‘Eu sempre fui gay’ e passa a relatar sua experiência pessoal, natural de Rio Grande, cidade do interior do Rio Grande do Sul, que sabia de seus desejos, mas mantinha tudo “escondido”. Tanto que somente aos 28 anos é que beijou pela primeira vez um homem. Ele continua seu relato, dizendo que foi somente em Brasília, longe da família, é que conseguiu dar vazão a seus reais sentimentos. Hoje, casado e à frente de um telejornal de audiência nacional, fala de sua orientação sexual e de seu casamento de forma natural, como deve ser.

O mais interessante do livro é a forma como Cosme conduz a narrativa: talvez em razão de sua larga experiência diante das câmeras, ele escreve como se estivesse falando com o leitor olho no olho, uma linguagem direta, objetiva e extremamente sincera. Partindo de sua vivência, Cosme vai construindo o painel sobre a LGBT fobia, com entrevistas com o médico Drauzio Varella, o psicólogo Angelo Brandelli, o psiquiatra Jairo Bauer, o governador gaúcho Eduardo Leite, o senador capixaba Fabiano Contarato, a vereadora e hoje deputada federal Erika Hilton e o advogado Paulo Iotti, especialista em direito da diversidade sexual e de gênero. Há também a participação de diversos membros da comunidade LGBTQIA+, que dão depoimentos emocionantes sobre suas vivências.

O livro também traz as conquistas obtidas pela comunidade LGBTQIA+: infelizmente ainda não há leis, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) em decisão de 2019 determinou que a homofobia e a transfobia são crimes de racismo. O autor selecionou para o livro trechos do voto do relator do processo, o ministro Celso de Mello, assim como frases dos ministros que foram favoráveis à questão.

Há ainda uma pequena entrevista com a cantora baiana Ivete Sangalo, que relata sua amorosa e respeitosa relação com a comunidade LGBTQIA+ e a conclusão do autor, que justifica a necessidade extrema de falas contra o preconceito, a homofobia e a transfobia. O livro termina com um glossário sobre o significado de todas as letrinhas da sigla da comunidade.

Uma obra imprescindível, indispensável!

Ficha técnica:

Título: Talvez você seja…

Autor: Marcelo Cosme

Editora: Planeta, 208 pgs

Preço: R$52,90

Desafio necessário.
Maurício Mellone, o autor da resenha.

Foto de Marcelo Cosme: reprodução do Instagram.

Imagem capa: divulgação.

Foto de Maurício Mellone: divulgação.

Maurício MelloneAuthor posts

Maurício Mellone

Jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

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