“Não afundes o chapéu sobre as vossas pupilas! Dê palavras à dor, à desgraça que não fala, murmura no fundo do coração, que não pode mais, até rompê-lo.”

(SHAKESPEARE | Macbeth, ato IV, cena III).

Na natureza, alguns seres, à medida que crescem, deixam para trás as formas do corpo que mantiveram sua aparência até ali. É assim com as cigarras, as lagartas e os crustáceos, estes na troca periódica de seu exoesqueleto. Serpentes também mudam sua pele de quando em quando. Nós humanos também mudamos.

Existem fases que são tão cruciais para o nosso crescimento, que, muitas vezes, nem nos damos conta de sua real importância. Quantas e quantos de nós chegamos à idade adulta mantendo as várias camadas, emocionais e mentais, que adquirimos e fomos construindo, à medida que crescemos de estatura. Resta saber se esses acúmulos serviram para construir um ego maduro, seguro e confiante, ou não.

Conheço algumas pessoas que conseguem dar conta de suas vidas, construindo e mantendo estruturas de relacionamentos saudáveis. Aqui, destaco, sobretudo, as mais jovens.

Agora, o que fazer com o indivíduo que cresceu num ambiente hostil, que, para sobreviver às etapas de crescimento rumo a fase adulta, construiu várias camadas de proteção e de defesa? Em situações assim, quantos acordos internos foram necessários para suportar situações de violência doméstica, porque não tínhamos para onde ir, nem a quem recorrer? De alguma maneira, esse comportamento hostil era banalizado, gerando adultos disfuncionais.

Sem perceber, levamos essas marcas para outros ambientes, em relacionamentos diversos, a maneira pela qual aprendemos a estar no mundo, por acharmos ser a forma correta, porque funciona em algum nível. Só que inconscientemente projetamos nesses mesmos ambientes nossas angústias porque agimos, na verdade, por meio da criança ou do adolescente. Em geral, nutrimos nossas angústias num ciclo vicioso, porque não nos dispomos a darmos início ao processo de cura ou não sabemos por onde começar a mudança.

Quando passamos a funcionar a partir da inconsciência, não temos clareza de que estamos em sofrimento, também não assumimos a responsabilidade em gerar sofrimento em nossas relações, sejam as de trabalho, familiares ou de amizade. Seguimos mantendo relações disfuncionais, repetindo os ciclos de abuso, porque nos auto abusamos sem perceber.

Quando resistimos às mudanças internas nada flui. Aos poucos, vamos nos tornando previsíveis e igualmente entediantes, pois não existe o novo. Nos prendemos ao que funciona e ponto. Acontece que a vida cobra um preço muito alto de nós quando não correspondemos ao que a existência requer. O medo nos enrijece e pesa a atmosfera ao nosso redor. O que fazer?

Precisamos nos lembrar de nossa natureza humana. Que assim com as outras formas de vida, nós também crescemos e expandimos a partir das experiências familiares. Do ponto de vista existencial, não sabemos o porquê nascemos em determinada família com tais características e muitas situações que foram traumáticas e cada pessoa vai responder aos traumas à sua maneira. Mesmo numa situação em que aparentemente não existe escolha, podemos sim escolher a maneira como desejamos viver aquela experiência. Quando compreendemos que estamos aqui para aprender, começamos a dar um novo sentido à vida.

Aprender sobre nós, a partir do entorno e perceber como nos colocamos nesse cenário talvez seja o primeiro passo. Se escolhermos aprender, esse exercício sempre vai colocar em xeque os velhos pontos de vista, quando atualizamos a maneira de ver o mundo, imediatamente uma mudança ocorre nesse olhar.

O autor.

Ronaldo Silva é psicanalista, tarólogo e terapeuta energético. É graduado em Jornalismo e Relações Públicas pela UNICAP.

Fotos: divulgação.

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Ronaldo Silva

Psicanalista, tarólogo e terapeuta energético. É graduado em Jornalismo e Relações Públicas pela UNICAP.

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