Depois de ser apresentado ao público de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e aqui no Recife (no Cinema da Fundação) em sessões de pré-estreias, o filme Tia Virginia, do diretor goiano Fabio Meira estreou, em todo o país, inclusive em Pernambuco.
O filme recebeu vários prêmios no último Festival de Gramado, dentre eles o da crítica de melhor filme, atriz para Vera Holtz, menção honrosa para Vera Valdez e roteiro, assinado pelo diretor.
A história é sobre Virginia (Vera Holtz), uma mulher de 70 anos, solteira e sem filhos, que foi convencida pelas irmãs Vanda, vivida por Arlete Salles, e Valquíria, papel de Louise Cardoso, a cuidar da mãe delas, interpretação impactante de Vera Valez, que está acamada e sem falar.
A trama se passa em um único dia, véspera de Natal, quando Virginia prepara a casa para receber a família: durante o dia com os preparativos da ceia e o início da festa, todos os ressentimentos, segredos e mágoas familiares vêm à tona e Virginia mostra sua verdadeira face.
O diretor Fabio Meira revelou que há mais de dez anos o filme vem sendo realizado e que a base do roteiro foi construída com a história de sua família. Ele entrevistou sua mãe e suas tias e as personagens do filme são uma mistura da trajetória destas mulheres e de outras que ele conhece, além de elementos ficcionais. Segundo Meira, para trazer mais verdade à trama, a maioria dos elementos cênicos é acervo familiar, como fotos, objetos e o relógio de parede, que marca o início da história.
Antes da chegada de todos, Virginia dá os últimos retoques na casa e, como o enfermeiro faltou, ela mesma vai cuidar do banho e da alimentação da mãe. Estas cenas causam muito impacto, pois a idosa não tem qualquer reação e a filha conversa com ela naturalmente. A atuação de Vera Valdez é tocante!
A primeira das irmãs a chegar é Valquíria, que vem com o filho, vivido por Iuri Saraiva. As irmãs mantêm uma aparente cordialidade, mas logo a visitante começa a alterar a posição dos móveis, o que deixa a anfitriã irritada. Em seguida chega a irmã mais velha, acompanhada do marido (Antonio Pitanga), que apresenta um grau de demência, e da filha (Daniela Fontan). Vanda também demonstra amabilidade, no entanto o espectador percebe que há mais ressentimento e atrito entre as três do que amor e afeto. Virginia tem carinho sincero mesmo é pelos sobrinhos.
A ceia já estava encomendada, mas aos poucos Valquíria e Vanda vão se apoderando da cozinha e da casa, deixando Virginia à margem, literalmente. Ressentida e desejando acabar com aquele mundo de hipocrisia e aparências, Virginia espera a meia-noite para desabafar e assim desmascarar as irmãs. Com seu vestido de formatura, que ainda serve depois de pequenos ajustes, ela dança ao som de Bolero de Ravel, para espanto de todos. O final é surpreendente, poético e comovente!
O grande destaque do filme é pela brilhante interpretação e perfeita sintonia em cena entre Vera Holtz, Arlete Salles e Louise Cardoso, três das maiores atrizes nacionais. Impossível o espectador não identificar aquelas mulheres com suas mães, avós e tias. Vera, que até então tinha pouca atuação no cinema, com a composição da personagem título do filme deixa sua marca para a história do cinema brasileiro. E o roteiro, premiado em Gramado, também deve ser realçado. Com sutileza e ao mesmo tempo profundidade, Fabio Meira propõe uma discussão sobre o envelhecimento, além de questionar as relações e papéis de cada membro de uma família. Um filme questionador e imprescindível, justamente hoje que a população idosa no Brasil vem crescendo e representa 10,9%.
Vá conferir!
PS: Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo: rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.
Foto: divulgação.
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