“Era 18 de março quando Edgard pediu para que eu escrevesse sobre o impacto da quarentena na minha vida. Fazia apenas uma semana que eu estava em casa e isso não era novidade para mim e foi sobre o que escrevi.

Já faz tempo que optei por uma vida mais reclusa e porque moro só e trabalho em casa, descobri que gosto muito de conviver comigo e que tenho muito prazer na solidão. Ok. Agora, mais de dois meses depois, confesso que não me desesperei, mas tive momentos de grande tristeza, angústia e choro. Sim, muito choro e depois passou. Procurei meio que criar uma rotina de leitura, caminhadas no estacionamento do prédio, estudo, de falar com meu filho e família por telefone e fazer vídeos com amigos – às vezes rola até caipiroska.                            

Esse pode não ser o melhor momento da vida, mas acho que seja um bom momento para exercer a generosidade, aprender a dividir, investir no autoconhecimento. Organizar gavetas e a cabeça. Deixar a casa cheirosa e linda. Também acho que seja um bom momento para descobrir quem faz falta e quem sente a sua falta.

Pensando bem, não está sendo tão ruim como parecia ser. E no mais, vamos ficar em casa com a certeza de que vai passar”.

Maristela Beltrão é fotógrafa, editora da Revista Club e terapeuta de perdas e luto.

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Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

1 Comentário

  • Texto compacto e intenso este de Maristela. Concordo com ela e sei que cada um terá as suas próprias descobertas. No contexto geral deve ficar a certeza que tínhamos momentos de mais para muitas coisas, rápidas coisas, efêmeras até, e poucas reflexões existências. Vivíamos sem consciência. Sinto-me hoje como num casulo prestes a metamorfose. Todos seremos atores de transformações, mesmo que não saibamos (quase impossível) ou ainda sem aceitar. Será, ou já é, inevitável. Em frente

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