Agiste segundo teu desejo? Esta foi a sentença lançada pela psicanalista, sexóloga e Mestra em Psicanálise Elisângela Sobral, durante a palestra “Da Demanda ao Desejo na Clínica Psicanalítica: uma travessia possível?” Questão que ficou ecoando em minha mente, até poder externar da melhor maneira aqui nesse texto. A fala aconteceu durante o 2º Seminário Nordestino de Psicanálise, realizado em maio deste ano, na cidade de João Pessoa/PB.
Não vou aqui me debruçar sobre a profundidade dessa provocação, mas, compartilhar alguns pontos de vista. Assim como a dúvida sobre a origem do ovo ou da galinha, o que vem primeiro: a demanda ou o desejo? Será que conseguimos dar conta de que, ao desejar algo ou alguma coisa, estamos também atraindo suas demandas? É exatamente neste ponto que gostaria de me concentrar.
É chegado o momento de termos a real clareza que qualquer movimento que façamos em direção ao desejo, além de estarmos criando oportunidades, possibilidades e probabilidades, teremos que dar conta das suas consequências. Quanto de nossa energia neste movimento de satisfação do desejo é formada apenas para acessarmos sua realização, por puro prazer?
A dimensão do desejo é o que nos distingue dos demais animais. Para Lacan, somos seres desejantes, destinados à incompletude, e é exatamente isso que nos impulsiona. Já parou para pensar em alguém cujo desejo se encontra completamente inexistente?
Desejamos genuinamente ou somos levados a desejar?
Não quero falar aqui do desejo estimulado pelos letreiros e propagandas. Recuso-me a falar do jogo perigoso, que é o desejo criado pelas mensagens subliminares para abastecer o mercado, alimentando uma cadeia de desnecessidades, que tanto distancia a pessoa de si mesma, colocando-a num cenário de vazios insaciáveis.
Será que, quando desejamos, nos deixamos inconscientemente guiar pelo que nos faltou no passado, que integrou os primeiros anos de nossas vidas, a chamada infância? Certamente, antes de nos tornarmos conscientes, nos deixamos guiar pelo inconsciente, como diria Carl Jung.
Talvez, por nos deixarmos agir pelo inconsciente, nos condicionamos a gerar padrões de comportamentos repetitivos, crenças limitantes e zonas de conforto que contribuem para erguermos barreiras egóicas. Isso dificulta, e muito, no amadurecimento da personalidade.
Percebo que quando abrimos mão de nós, por não exercitamos um existir consciente de quem somos, negligenciamos a nossa natureza intrínseca, recusamos àquilo que nos distingue dos demais, da nossa assinatura enquanto indivíduo, o que nos torna, em essência, seres singulares na pluralidade.
Por isso, escolho falar do desejo que aproxima você de sua verdade. Do desejo que estimula a avançar e a expandir, para que possa agir a partir do que lhe move verdadeiramente, rumo a uma autorrealização e completude. E isso não se alcança sem um engajamento no autoconhecimento, com ajuda de um profissional que lhe estimule ao exercício da percepção de si mesmo.
Se somos seres desejantes, que possamos agir na consciência de cada escolha. Possamos reconhecer que a vida que temos é resultado dos caminhos que escolhemos trilhar a todo momento, e que nos mantêm presentes.
Se o jogo da vida é composto por desejos e demandas, precisamos perceber que quando você age segundo seu desejo, tem que estar pronto para bancá-lo, o que significa dar conta do que se descortinará a partir daí.
Ronaldo Patrício é psicanalista, tarólogo e terapeuta energético. É graduado em Jornalismo e Relações Públicas pela UNICAP.
Todas imagens: divulgação.
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