Lançado em 2013, o CD Bebida Nacional vira Long Play pela Selo Raro e e-discos “até o fim de 2023”, diz Alessandro Corrêa, que, além de tocar, assinou a pesquisa, a produção artística e a produção executiva do CD – esgotado, diga-se de passagem.

Este foi o primeiro trabalho conceitual de Alessandro Corrêa, ou Alê, violonista mineiro, primoroso, que mora em Brasília.

Confesso que senti prazer e saudade ao escrever Long Play…

Por que virar vinil?

“Por conta da arte do encarte, do espaço para os textos, por conta da qualidade do som, da materialidade do objeto. No vinil, o som é mais aveludado, ressalta mais os graves, ressalta mais frequencias. Também queremos atingir outro público e este é um mercado que só cresce”, diz ele.

Cartografia musical da marvada

Resumidamente, Bebida Nacional é a trilha sonora da bebida mais brasileira que há: a cachaça e os seus regionalismos e festividades.

As músicas, por exemplo, foram batizadas com os nomes que a dita cuja tem nas regiões do país. O frevo Bicadinha (ouça abaixo) é o pedaço mais pernambucano do bolo.

Arretado demais.

Antes de seguir, saiba que: comprando antecipadamente a bolacha física, você desembolsará R$100,00. Após o lançamento oficial, Bebida Nacional custará R$150,00. Então se avexe e garanta o seu exemplar pelo link: https://www.e-discos.net/ale-correa-bebida-nacional

Lado A

Dendezeiro (Faz-xodó) – Celso Araújo e Alessandro Corrêa

Clarineta, cavaquinho, violão de 6, violão de 7 e percussão: pandeiro, ganzá, tantã, caixa, repique de mão e pratos.

Tanto a letra, quanto a melodia desse samba são uma homenagem ao estilo de cantar do baiano Dorival Caymmi.

Já Começa – Alessandro Corrêa

Sanfona, violão e percussão: cajón, caixa e pratos.

A milonga é derivada da habanera, das guajiras cubana e flamenca. Pode ser chamada de prima-irmã do portenho tango. O Rio Grande do Sul adotou e particularizou o gênero.

Mazurca do Viajor – Roberto Corrêa

Viola e violão.

Foi composta para o vaqueiro Grivo, personagem do espetáculo teatral Cara-de-bronze, adaptação do conto de Guimarães Rosa.

Foi escolhida pela beleza da melodia, pela viola – instrumento que traduz o interior do Brasil.

Paraty – Alessandro Corrêa

Clarineta, cavaquinho, violão de 6, violão de 7 e pandeiro.

O choro nasceu no Rio de Janeiro. Sua trajetória começa em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil.

Eles trouxeram instrumentos (inclusive o piano), danças, gêneros e hábitos musicais, que aqui foram misturados, abrasileirados.

Bicadinha – Alessandro Corrêa

Sax soprano, sanfona, violão, baixo elétrico e bateria.

O frevo simboliza o Carnaval pernambucano e o termo frevo “… foi publicado pela primeira vez no dia 9 de fevereiro de 1907, numa nota do extinto Jornal Pequeno, de Recife… A palavra é uma expressão popular mais antiga e vem de ferver e, por corruptela, frever, sinônimo de festa animada, quente…” (ALBIN, 2006).

Bicadinha é sobre a fissura de tomar aquela dose experta.

Modinha do País – Alessandro Corrêa

Violão.

‘Na segunda metade do séc. XVIII desenvolveu-se, inicialmente em Portugal e posteriormente no Brasil, um estilo peculiar de canção camerística, que acabou sendo denominada modinha…’ (CASTAGNA).

Sobre sua característica elitista, a modinha “… é considerada canto urbano branco de salão, de caráter lírico, sentimental” (ALBIN, 2003).

O nome Modinha do País foi inspirado num texto que comprova o preconceito que existia sobre a cachaça: “… todavia, se os botequins e os cafés haviam herdado das vendas e tavernas a chaga de serem freqüentadas por pobres e cachaceiros, rapidamente este pejo foi sendo afastado pelos novos proprietários que seguiram as seguintes estratégias: se empenharam em criar uma imagem positiva deles, fazendo uso da propaganda nos jornais, procuraram oferecer serviços e produtos de melhores qualidades… E, sobretudo, em hipótese alguma servir em seus estabelecimentos cachaça, que não era mencionada sequer sob a forma amenizada de aguardente de cana, ou aguardente do país” (EL-KAREH, 2010).

Alê no ofício.

Lado B

Com Dois Dedos de Gramática – Alessandro Corrêa

Gaita, violão, baixo elétrico, bateria e percussão: pandeiro, tamborim e ganzá.

Concebida em duas partes, sendo a primeira samba tradicional (também chamado de samba do Estácio) e a segunda, samba de partido alto.

Conforme Boquady (2000),gramática tem o significado de cachaça, conhecida também na expressão com dois dedos de gramática, usada no Rio de Janeiro.

Animadeira – Alessandro Corrêa

Clarineta, cavaquinho, violão de 6, violão de 7 e percussão: pandeiro, caixa, surdo e pratos.

A marcha carnavalesca Animadeira teve seu nomeextraído da seguinte citação:“Novamente vamos preencher os copos de animadeira e embicar uma talagada de arromba, pra queimar os bronzes e olear os mancais da máquina humana, como diria o vulgo plebeu na gíria canista – Nelson Barbalho, A Conferência da Cachaça, Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro, 1972” (BOQUADY, 2000).

Assovio de Cobra – Junior Ferreira

Sanfona.

Referência direta à obra de Luiz Gonzaga: inspira-se nas quadrilhas, no arrasta-pé, no carnaval pernambucano. Mistura baião com frevo.

Assovio de Cobra, segundo Boquady (2000), é nome de cachaça em Pernambuco.

Travessia dos Gerais – Alessandro Corrêa

Violão e percussão: pau de chuva, caxixi, efeitos de sementes, unha de lhama e pratos.

Música inspirada no livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, romance que se passa na fronteira do sul da Bahia com o norte de Minas Gerais, norte e nordeste de Goiás.

Travessia dos Gerais homenageia a viola brasileira (ou caipira).

Queluzindo – Roberto Corrêa

Viola.

A cidade Queluz de Minas, MG, tornou-se famosa no final do século XIX, pela fabricação de violas marchetadas de excepcional qualidade.

Queluzindo foi composta no início da década de 1990, em uma antiga viola de Queluz. Roberto Corrêa utilizou as técnicas apreendidas com os violeiros antigos.

Caxaramba – Alessandro Corrêa

Violão e percussão: caixa de folia e ganzá.

Música inspirada na Folia de Reis ou Reisado – festividade do catolicismo popular, própria da época natalina.

Caxaramba, de acordo com Boquady (2000), é apelido de cachaça nas Gerais.

Os músicos em painel ou andorinha só não faz verão.

Os músicos

Alessandro Corrêa (Violão)

Hamilton Pinheiro (Baixo elétrico)

Roberto Corrêa (Viola)

Junior Ferreira (Sanfona)

Fernando Cesar (Violão 7 cordas)

Felix Alonso (Clarineta)

Rafael dos Santos (Bateria e Percussão)

Pedro Vasconcellos (Cavaquinho)

Pablo Fagundes (Gaita)

Ademir Junior (Sax Soprano)

Ficha técnica do LP

Produção fonográfica – Evandir Barbosa

Produção executiva – Túlio Gontijo e Alessandro Corrêa

Masterização própria para LP – Marcos Pagani

Design adaptado para o LP – Marcos Cunha

Referências

ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de Ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

___________________. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006. Verbetes: Baião, Choro, Frevo e Marcha Carnavalesca.

BOQUADY, Jesus Barros. Dicionário de Sinônimos de Cachaça e Algumas Designações

para Bebidas Alcoólicas. Brasília: ABC BSB – Editora Ltda., 2000.

CASTAGNA, Paulo. A Modinha e o Lundu nos Séculos XVIII e XIX. Apostila do curso História da Música Brasileira – Instituto de Artes da UNESP.

EL-KAREH, Almir Chaiban. Novas formas de sociabilidade: cafés, botequins e bilhares. V ENEC e 1º Encontro Luso-brasileiro de Estudo do Consumo, de 15 a 17 de setembro de 2010, na ESPM/RJ.

Imagens: divulgação.

Edgard HomemAuthor posts

Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

Sem comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

cinco × dois =