A caixa que tinha em mãos era bem diferente daquelas recebidas nos natais da sua infância. Parecia mais um porta-joias. Bombons gourmet. Chocolate amargo e ao leite, com variados tipos de recheio. 

Por sorte ainda restava um pouco de espumante na garrafa. Combinação perfeita para saborear o presente guardado desde o Natal. O melhor dos presentes.  

Não que ela fosse chocólatra. Mas é que naquela embalagem havia mais do que um produto capaz de elevar a produção de serotonina e de endorfina. Era o doce sabor da lembrança. 

Mordeu o primeiro bombom. O recheio de cereja escorreu pelo canto da boca. Comeu mais. Pistache, damasco, trufa. Leu no verso do “porta-joias”, em letra miúda, as informações sobre o produto, a tabela nutricional e o alerta para alérgicos.

“O que se come sem culpa, não faz mal”, pensou. Mas seria essa tese comprovada cientificamente? Buscou na memória o cheiro da caixa de chocolate dos seus tempos de menina. Eram muitos bombons, todos com o mesmo recheio, embalados em papel celofane rosa. Impossível comer de uma vez só.

Agora era possível. Restavam quatro, além do derradeiro gole de espumante na taça. E assim, num clima de conforto e carinho, comeu os últimos bombons. Trufa branca, avelã, morango e rum.        

O sol chegou chegando. Ela o recebeu, feliz, ali no seu pedaço de Universo.   Nada de continuidade. Nada de recomeço. Um ciclo havia sido encerrado para que outro pudesse começar. Decidiu fazer um café para coroar ainda mais aquele início.

Daniella Freitas é jornalista e contista.

Imagens: divulgação.

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Daniella Freitas

Natural do Recife, é jornalista de formação e contista por necessidade.

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