A cidade é inspiração para exposição individual de Juliana Lapa.

Aos poucos, o casarão, um dos mais antigos do centro de Carpina, cidade na Zona da Mata Norte pernambucana, foi ganhando novos ares e chamando a atenção de quem passava.

Com a movimentação, começaram as especulações: vai ser farmácia?

A casa, até então com as janelas e portão sempre fechados, deixando à mostra apenas a varanda lateral e o quintal coberto pelo mato, placa de vende-se na fachada, agora vive com as janelas abertas e um entra e sai de gente.

O que aguça mais ainda a curiosidade. “Que lindo que deram vida a essa casa”. A frase acerta no alvo. Esta é a CASA VIVA, projeto de residência artística que tem como mote a exposição individual de Juliana Lapa, onde as obras da artista ambientam uma proposta que extrapola o conceito de galeria de arte, aproximando-se mais de um centro cultural, que tem como premissa dialogar com quem antes só via janelas e portas fechadas.

O acesso ao casarão já está aberto desde o início de agosto, quando começou a revitalização e a produção das obras que integram a exposição, mas a CASA VIVA, com as características que foi pensada, estreia de maneira festiva no primeiro sábado de setembro, 2, dia de feira em Carpina, a partir das 16h, e segue até 30 de setembro, com visitação de terça a domingo, das 10h às 19h.

A programação foi pensada para promover a imersão multidisciplinar na Arte, com vivências e formações que aprofundam questões sobre patrimônio, desenho, acessibilidade para as artes, arqueologia, associativismo e cultura popular em conexão com a Educação e a produção do Pensamento.

Diálogo

Natural de Carpina, Juliana Lapa foi movida pelos afetos com a cidade e o desejo de compartilhar as memórias que estão impressas na sua obra artística e, ao mesmo tempo, abrir um diálogo na cidade sobre arte, preservação do patrimônio histórico, políticas públicas na área cultural, formação de público, além de chamar a atenção dos poderes e dos artistas da cidade para a importância da interiorização dos investimentos na produção cultural. “Partimos do desejo de ver acontecer arte em Carpina. A cidade não tem galeria, nem museu”, lamenta ela, que tem ao seu lado, na equipe principal do projeto, Mery Lemos, também natural de Carpina, que assina a coordenação de produção, e Bruna Rafaella Ferrer, natural de Vitória de Santo Antão, à frente da Curadoria e do Educativo.

Ainda que de maneira temporária, a CASA VIVA preenche a lacuna da falta de um espaço público dedicado às artes visuais em Carpina. “Nesse sentido, o propósito da curadoria da mostra se estabelece com base num programa de arte cujo objetivo não é mais apenas produzir obras para serem vistas, mas sim, criar um espaço dialógico formado pela participação das visitantes e de interfaces autorais entre a produção artística, educativa, curatorial e expográfica”, comenta a curadora e educadora da exposição.

A residência artística CASA VIVA foi contemplada com o edital do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura | FUNCULTURA PE na linguagem de Artes Visuais. A equipe multidisciplinar é formada também pelo historiador Rodrigo Sávio e o restaurador Walas Fidelis.

Expografia

O desejo da equipe multidisciplinar que compõe a CASA VIVA é formar um público para a arte e mediar um encontro sensorial entre visitantes e as obras, inéditas em sua maioria, distribuídas em cada cômodo da casa – cozinha, sala, quarto, de acordo com o seu uso habitual.

Na cozinha, devidamente equipada com os utensílios e eletrodomésticos de praxe, funcionará a parte mais importante da exposição, segundo Juliana Lapa, que é o Educativo. “É o coração da exposição. Ouso dizer que sem o Educativo estaríamos no lugar comum da Arte, que não se abre. O Educativo vem para dizer: vamos dialogar, vamos falar de arte como quem fala de vida. Falar da cidade e das pessoas que nela moram. Arte é o espírito da Educação. Quero que meu trabalho seja compreendido, seja popular”, afirma.

Na sala, a artista instalou um retábulo, onde criou uma obra a partir do título Zona da Saudade da Mata Norte, onde conta a história de Carpina na sua perspectiva. A paisagem da mata, que dá nome à região na qual a cidade está localizada, e que tem sido engolida pelos canaviais. A cidade que um dia se chamou Floresta dos Leões também vem perdendo o casario, conjunto de edificações do século passado, que junto às ruas largas e palmeiras imperiais formam um diferencial em comparação com os municípios vizinhos. O que justifica a escolha da equipe de um casarão, que está à venda, para sediar o projeto.  

Em outro cômodo, outra obra foi desenhada na parede, onde interage com o passado da casa por meio das várias camadas de tinta de tempos anteriores, que a artista encontra ao decapar (raspar) as camadas com o uso de um bisturi, executando uma prospecção estratigráfica. Já no quarto, a interação é sonora, e o suporte é uma escrivaninha de madeira com gavetas de vários tamanhos.

Programação

As atividades educativas abertas ao público têm início na segunda-feira, 4 de setembro, com a oficina A expansão dos sentidos, ministrada por Liliana Tavares (COM Acessibilidade Comunicacional), das 14h às 17h, na CASA VIVA.

Dia 16 de setembro, a vez é da Oficina de Arte | Desenho Expandido, que será itinerante, por vários pontos da cidade. Das 14h às 18h, com saída da CASA VIVA.

No dia 30 de setembro, tem o encerramento da Exposição e lançamento do fascículo II do Catálogo. Provavelmente haja festividade, mas ainda em aberto.

A CASA VIVA fica na Avenida Murilo Silva, 233, Centro, Carpina, Pernambuco.

Ficha técnica

Artista: Juliana Lapa

Curadoria e Educativo: Bruna Rafaella Ferrer

Coordenação de Produção: Mery Lemos

Produção Local: Joseane Rocha

Marcenaria: Luiz V. A. Maciel Filho e João Diego Farias de Paula

Fotografia: Danilo Galvão

Pesquisa Histórica: Rodrigo Sávio

Design: Estúdio Ligatura (Heitor Moreira, Rod Souza Leão)

Assistente de Arte: Humberto Dias

Consultoria em Restauração: Walas Fidelis

Retábulo.
VIVA!

Fotos em destaque: Juliana Lapa.

Todas as fotos foram tiradas por Danilo Galvão.

Edgard HomemAuthor posts

Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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