A página em branco na tela do computador era motivo de angústia. Já tinha perdido a noção da hora. Insistia, mas não conseguia pensar em nada interessante, nada que pudesse ser transformado numa escrita original.

Não podia se dar ao luxo de viver bloqueios criativos. Existia um prazo a ser cumprido. A luminosidade da tela incomodava os olhos. Levantou para tomar um café e descansar a vista. Coisa rápida. Precisava de uma ideia, precisava construir uma narrativa.

O café desceu amargo. E se não conseguisse? E se a fonte da imaginação criativa tivesse secado? Ela não sabia o que abordar. Não tinha assunto. Era uma trabalhadora, em busca da matéria-prima.

Sentou. Afastou o notebook. Raramente escrevia algo de próprio punho, mas procurou se inspirar usando papel e caneta. Só precisava de um tema, de um primeiro vocábulo, e então, a linguagem fluiria, como sempre.

Ficou ali, à espera, com a caneta passeando entre os dedos. Como a palavra que resolveria o impasse teimava em não vir, escreveu o próprio nome. Sua letra era horrível, insegura como a menina que ela foi um dia. Suspirou. Dali mesmo é que não sairia nada.

Voltou à tela do computador, aflita com o adiantado da hora. Cobrou de si mesma concentração e foco! Tinha se comprometido, precisava entregar o texto dentro do prazo estipulado.

Não adiantou. Lá estava ela desviando o olhar mais uma vez. A mente dava sinais de cansaço. Olhou com saudade para a máquina de escrever que agora ficava na estante, como objeto de decoração. Quanta coisa boa havia escrito na sua Olivetti! Era “dedógrafa”, apesar do diploma de datilografia, mas usava os dedos indicadores com uma velocidade incrível.

Decidiu que iria pedir um novo prazo ao editor da revista. O desconforto era enorme. Pousou as mãos no teclado por alguns minutos, e antes de fechar a tampa do notebook, escreveu, por impulso, uma palavra. Aquela que definia o seu estado emocional: desmantelo.

Leu com atenção. Apagou. Voltou a escrever com a separação silábica: des-man-te-lo. A palavra, digitada na página em branco, fez disparar o seu coração. Era uma potência. Era caminho. Ela salvou o arquivo, e o texto, finalmente, nasceu.

Daniella Freitas é natural do Recife, é jornalista de formação e contista por necessidade.

Foto: divulgação.

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Daniella Freitas

Natural do Recife, é jornalista de formação e contista por necessidade.

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