Todos os dias, caminhava na estrada de terra que ia dar no local de partida. Saía sempre à tarde, quando o sol ia baixando. Andava em círculo. Uma hora de caminhada só de ida. Seguia devagar, sem pressa, até chegar no fim que era começo.

Um dia, uma ventania interrompeu o seu passeio. Foi assim, de repente. O vento chegou forte, arrastando tudo e levantando poeira. Ela mal conseguia ficar de pé. A terra subia, atrapalhava sua visão, arranhava seu corpo.     

Por sorte, uma mulher que tentava, sem sucesso, fechar a janela de casa, viu a situação. “Venha”, gritou a senhora. Ela foi, descabelada e suja de terra. Ficou ali, esperando o fim da ventania, sem muita paciência para as perguntas da mulher, que disse conhecê-la de vista, de tanto ver passar.

Quando o vento acalmou, já era noite. Ela agradeceu a acolhida, e partiu. Foi sem medo, porque conhecia o caminho como a palma da mão. Logo chegaria ao final da estrada, ao lugar que também era começo.

Seguiu, assim, no seu ritmo habitual, até ouvir o som de vozes alteradas. Uma zoada, que parecia bem distante, mas que logo foi crescendo e chegando mais perto. Avistou, então, um casarão todo iluminado, uma construção que não conhecia.

Olhou para trás, atordoada. Suas pernas bambearam, e aquela sensação de segurança e bem-estar deu lugar ao medo. Estava perdida. Se deu conta disso ao parar em frente à casa desconhecida.

Não conseguiu dar nem mais um passo. Simplesmente, travou ali. Um rapaz abriu o portão e se aproximou sorrindo. “Está fazendo o que aí sozinha? A festa é aqui mesmo, pode entrar.” Meio sem jeito, ela explicou o que tinha acontecido. “Ah, você saiu da estrada. Está pertinho. É só seguir por ali”.

Ela agradeceu ao moço do sorriso bonito e se pôs mais uma vez a caminho. Tinha pressa. Sentia angústia, um aperto no peito de tanta vontade de chegar. Não prestou mais atenção no céu estrelado, nem se distraiu com o barulho dos bichos noturnos.

Não compreendia bem, mas era uma urgência. Andou até as pernas doerem e os pés queimarem. Enfim, avistou uma luzinha num terraço. Andou um pouco mais e chegou na porta de casa. 

Daniella Freitas é natural do Recife, jornalista de formação e contista por necessidade.

Imagens: divulgação.

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Edgard Homem

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