Elas Pintam o 7 na reta final

Caso não tenha ido, programa-se: a exposição Elas Pintam o 7 segue em cartaz até o dia 24 de novembro de 2024, um domingo, na Galeria Janete Costa.

Fui ao coquetel de abertura no dia 24 de outubro, uma quarta-feira, e gostei muito do que vi: 50 mulheres artistas reunidas expondo suas habilidades e sensibilidades e provocando reflexões – a mais óbvia e, provavelmente por isso mesmo, tantas vezes não percebida de tão naturalizada: para as mulheres artistas tudo é mais desafiador.

Entre elas e as telas, pincéis, tintas, cinzéis, há a o cuidar do homem da casa, da casa em si, as gravidezes, a criação dos filhos, há o enfrentamento de um mercado de arte ainda fortemente machista e por aí vai.  

Enfim, vida que segue, mudanças em curso e a seguir, a fala de algumas delas, porque elas são as donas da festa toda.

Com a palavra, Rikia Amaral:

‘Ser mulher artista é resistir à estrutura patriarcal imposta ao ter que provar não ser igualmente capaz a um homem ao produzir arte, mas, mostrar-se superior.

Para além de combater o manto da invisibilidade com que a sociedade nos cobre, somos obrigadas a provar o nosso valor ao extremo, até que seja impossível negar o posto ou o mérito. Os homens, por sua vez, recebem estes sem necessidade de maiores esforços.

A presença das mulheres na Arte, enquanto sujeito criador da obra, é, portanto, um ato de resistência’.

Sobre a função da Arte no mundo

‘O próprio título da bandeira, Je est un autre, frase do poeta Arthur Rimbaud escrita a seu professor, em 1871, resume para mim a função da arte no mundo.

A essência do eu e o outro eu que mostramos aos outros, no mais das vezes, difere em razão de regras impostas, comportamentos sociais que podem não condizer com o pessoal, papéis assumidos para responder às expectativas do(s) outro(s) sem mesmo ouvir a coerência da própria intuição.

Assim, a função da Arte é entregar ao outro a dor da própria história e vice-versa: enxergar no outro a sua própria dor e, então, compartilhar vida vibrátil e pulsante’.

Título do quadro de 2023: RIKIA IAIAI KIKIK IAIAI AIKIR. Técnica mista sobre tela, 60cm x 40cm.

Título da bandeira de 2024: ‘Je est un autre’. Óleo sobre algodão, 80cm x 40cm.

Conheça mais: @atelierrikiaamaral

Com a palavra, Andréa Spnelli:

Quando a Arte chegou em sua vida?

‘Fui uma criança que gostava de desenhar e pintar e isso perdurou até a minha adolescência, mas depois que entrei para o curso de Engenharia, eu praticamente abandonei a Arte. Fazia um ou outro desenho por encomenda. Após 21 anos, percebi que a Engenharia não me realizava e decidi dedicar-me totalmente a Arte. E aqui estou’.  

‘A Arte é muito poderosa, é difícil resumi-la, embora eu possa citar algumas das suas funções: contar a história e o comportamento da humanidade, revolucionar e libertar as pessoas são algumas delas. E isso já é imenso’.   

Ser mulher artista é…

‘Viver a sua Arte com paixão, procurando ser resiliente num mundo machista’.

Título do quadro de 2024: O encantador de galinhas. Óleo sobre tela, 52cm x 70cm.

Título da bandeira de 2024: Amigas. Técnica mista sobre tecido, 80cm x 60cm.

Conheça mais: @andreaspinelliartista

Com a palavra, Dayse Pontes:

‘Ser mulher e artista é uma alegria, um prazer, uma sensação de encantamento na prática da Arte, mas é também encarar a disputa por espaços com os artistas homens. Avançamos várias casas, mas a julgar pelo número de artistas masculinos e o número de artistas femininas realmente consolidadas, que é visivelmente menor, há muito trabalho por fazer’.

‘A tarefa da Arte no mundo é provocar todos os tipos de emoções no observador e também buscar comunicar ideias. Cultivando e comunicando o pensamento crítico, o artista gera engajamento, o bom engajamento. O artista, a artista é um veículo, uma ferramenta de aprimoramento do coletivo. A Arte é bela e é mais que isso’.

Título do quadro de 2024: Chá de estrelas. Óleo sobre tela, 1.20cm x 80cm.

Título da bandeira de 2024: Asas… pra quê te quero? Óleo sobre tela, 80cm x 60cm.

Conheça mais: @daysepontes21 @dpontes_arte

Com a palavra, Vânia Coutinho:

‘A Arte chama a alma das pessoas para uma conversa, para uma grande reflexão através da contemplação de um desenho, de uma pintura, escultura ou qualquer forma criativa de Arte.

A Arte melhora o mundo e torna a vida mais leve’.

Ser mulher artista é…

‘Um privilégio! É um imenso dom divino poder dar à luz e ter a luz para criar. Criar os filhos e criar a sua Arte!

Ser mulher artista é desdobrar-se em várias mulheres. É ser artista e mãe. É largar o seu momento sublime de criação, para ficar ao lado da filha em estado febril.

É ser artista e dona de casa dedicada que, não raro, abdica de fazer Arte para fazer a arrumação da casa e ainda vai ao fogão preparar o alimento da prole e do marido.

A mulher artista é igualmente mulher conselheira que, quando percebe, já largou os pincéis para ouvir as lamúrias dos filhos para, em seguida, encorajá-los. A mulher artista e vovó vai buscar os netos no colégio… Enfim, a mulher artista resolve tudo dentro de casa e no final do expediente ainda dá atenção ao marido.

Ser mulher artista não é fácil!, pois parece que o mundo é dos homens!

Finalizando, posso acrescentar que a nós cabe gritar e correr atrás da visibilidade, valorização, inclusão, respeito e, principalmente, oportunidade de mostrar a nossa ARTE nas Galerias, Mostras, Leilões, pois é notório que os homens artistas recebem bem mais convites. Ufa!

Porém, se serve como consolo, eu afirmo que a mulher artista, em sua grande maioria, tem a alma guerreira, corajosa e determinada.

Salve, Salve nós, MULHERES ARTISTAS!’

Título do quadro de 2006: Reflexões de Olívia. Técnica mista sobre tela, 1.20cm x 80cm.

Título da bandeira de 2024: O quintal de Olívia. Técnica mista sobre tela/tecido, 80cm x 60cm.

Título da escultura de 2024: Olívia perplexa. Esculpida na argila com fundição em resina e pintura automotiva sobre base de granito, 57cm x 21cm x 8cm.

Conheça mais: @artistavaniacoutinho

Ou seja: é preciso conferir Elas Pintam o 7, projeto idealizado em 2021 por Isabella de Roldão, vice-prefeita do Recife, e curado pela artista visual Ana Veloso.

A Galeria Janete Costa fica no Parque Dona Lindu – Rua Setúbal, 1023, Boa Viagem, Recife.

Visitação: de quarta a sexta-feira, das 10H às 17h. Sábado e domingo, das 12h às 18h.

A entrada é gratuita.

Outras informações: @galeriajanetecosta

Foto em destaque da Galeria Janete Costa: Melissa Fernandes e Brenda Alcântara.

Demais imagens: divulgação