Vencedor em 2023 do Prêmio Jabuti/autor estreante e do Prêmio Cepe Nacional de Literatura, o romance Extremo Oeste/CEPE Editora, do escritor paranaense Paulo Fehlauer, conta a história do desaparecimento do jovem Marcello e da busca de seu amigo de infância para desvendar seu paradeiro, assim como para descobrir o porquê desta fuga, deste sumiço.

O narrador da história (o amigo de infância), com a ajuda de dona Wanda (ou tia Wan, mãe de Marcello) e de Dália, vizinha de Marcello em São Paulo, tenta, por meio de rastros, rascunhos, fotos e cartas deixados num disco rígido com o inusitado título de TAUTOMAQUIA, entender a história do desaparecimento do amigo.

Jornalista, fotógrafo e produtor audiovisual, Paulo Fehlauer nasceu no oeste do Paraná, em Marechal Cândido Rondon, e hoje vive em São Paulo e é doutorando em Teoria e História Literária pela Unicamp. Extremo Oeste é seu primeiro romance e faz referência a sua origem, como ele explicou em entrevista à revista Continente:

“Meu livro trata da construção de uma história que também não acaba.

Sou do oeste do Paraná, uma região que condensa muitas das tensões pelas quais o Brasil passou, desde a chegada dos portugueses, porque é uma região de fronteira, uma região tradicional para os índios guaranis, tem as Sete Quedas, o Rio Paraná, a Usina de Itaipu. Em algum momento me senti seguro para contar essa história por meio da literatura”, diz Paulo Fehlauer.

Além do mote central da trama — o desaparecimento de Marcello —, o autor discute durante toda a obra se há ou não uma história, questiona uma provável crise de narrativa. O próprio autor explica:

“Há uma tensão entre os personagens: enquanto um diz que talvez não haja uma história, que é a história pessoal dele, da família dele, o outro, que é quem vai realmente dar forma à trama, diz que na verdade tem uma história. Então, fica nesse jogo o tempo todo”, explica o escritor.

O livro — recheado de fotografias que auxiliam o entendimento da trama — é narrado pelo amigo de Marcello, que a todo o momento escreve como estivesse falando com ele, como se fosse um diálogo (“Antes eu não sabia, Cello, mas hoje eu sei que…).

A intenção dele (narrador) é saber do paradeiro de Marcello, que sumiu a caminho da cidade fronteiriça de Guaíra, onde eles moravam na infância e onde os pais deles ainda moram. Nesta tentativa de descobrir onde está o amigo, o narrador vasculha o apartamento de Marcello em São Paulo e descobre o disco rígido com algumas pistas e tenta montar o quebra cabeça deste desaparecimento.

Uma das pistas fundamentais da busca são as cartas que o pai de Marcello (Cellão) deixou para que ele lesse aos 18 anos; Wanda, porém, escondeu as cartas e só as entregou ao destinatário pouco antes de seu sumiço. As cartas de Cellão relatam o fim do Salto Sete Quedas, uma das maiores cachoeiras do mundo e que foi alagada com a construção da Usina de Itaipu. Cellão acompanhou todo o alagamento da cachoeira e desapareceu em seguida. Marcello tenta entender o que se passou com o pai e enfrenta seus traumas.

A narrativa intercala as buscas do narrador em descobrir o paradeiro do amigo com as tentativas de Marcello em também desvendar o mistério de sua existência. Com a descoberta das cartas do pai, ele parte pelo mundo para entender as próprias dúvidas. É a busca pelo autoconhecimento.

“A cada passo torto, tropeço no meu rosto de cada dia”

“Eu pensava antes de viajar que, sozinho na estrada, poderia encontrar no caminho uma parte de mim perdida há um tempo incontável, mas compreendo agora que, ao contrário, o estar em si implica saber-se em um lugar, identificar em si uma raiz, um ponto de partida.”

O autor prende a atenção do leitor e faz suspense sobre o destino do personagem desaparecido até quase o final. E o desfecho da história fica em aberto, a ser construído pelos leitores.

“Há sempre um passo a mais a ser dado, ele diz. A oeste.”

Ficha técnica:

Título: Extremo Oeste

Autor: Paulo Fehlauer

Editora: Companhia Editora de Pernambuco, 224 pgs

Preço: R$40,00

Ele, o resenhista Mellone.

Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

Foto em destaque de Paulo Fehlauer na noite do dia em que recebeu o Prêmio Jabuti: colhida do site Ágora Eca.

Foto de Maurício Mellone: divulgação.

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Maurício Mellone

Jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

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