O diretor e roteirista pernambucano (um dos principais autores do cinema brasileiro contemporâneo) ministrará curso de roteiro para audiovisual (aulas presenciais) entre os dias 27 e 31 de maio de 2024 – de segunda a sexta-feira, na CEL, Casa Estação da Luz, em Olinda.

Serão abordadas ferramentas narrativas para o cinema de ficção, séries para TV e streamming e documentários.

Antes das discussões didáticas, será exibido em telão de alta definição e ao ar livre, um filme que leve a assinatura de Lacerda. Na lista: Amarelo Manga (roteiro), Baixio das Bestas (roteiro), Febre do Rato (roteiro), Tatuagem (roteiro e direção), Fim de Festa (roteiro e direção).  

‘A proposta geral é realizar um curso baseado em minha experiência pessoal como roteirista e diretor, e desenvolver, a partir de cinco filmes ou roteiros, pontos que considero relevantes na construção da narração cinematográfica. Mergulhar no processo de cada um deles e entender de que maneira outros processos e linguagens interferem nessa construção’, diz Hilton.

Cada encontro terá duração média de 4 horas. ‘Exibiremos o filme a ser discutido; depois, segue-se uma hora de exposição e depois partimos para o diálogo com a turma a partir do tema que foi exposto, aprofundando e problematizando questões’.  

‘O propósito é que os inscritos tenham acesso aos roteiros dos filmes apresentados, e a partir deles desenvolver detalhadamente cada aspecto para posterior debate – claro que abrindo para outras experiências’, conclui ele.

Completando o serviço

Sempre a partir das 19h.

Valor integral: R$480,00.  

Vendas pelo @estacaodaluz ou pelo Sympla:

https://www.sympla.com.br/evento/curso-de-roteiro-para-audiovisual-com-hilton-lacerda/2452646?referrer=www.bing.com

A Casa Estação da Luz fica na Prudente de Morais, 313, Carmo, Sítio Histórico de Olinda.  

Na função.

Para quem chegou até aqui, Hilton Lacerda detalha o conteúdo:

Primeiro dia

Exposição geral sobre a estrutura da oficina, abrindo discussão sobre os métodos, deixando clara as minhas escolhas e preocupações em relação aquilo ao que o roteirista desenvolve, seja no roteiro cinematográfico, na experiência seriada ou de estruturas documentais.

A subversão/corrupção como prática criativa. A hipótese do erro.

O processo de minhas construções e de que maneira os divido:  princípios, ambiente, personagem, diálogo e periferia.

Exibição do filme Amarelo Manga

Deixar clara a escolha entre uma estrutura mais linear ou mais fragmentada. Propor reflexão da experiência no aparentemente tradicional e do tradicional no aparentemente experimental.

Sobre os princípios: o que move a escrever/pensar numa estrutura audiovisual e o que nos movimenta; quando o romântico e o prático brigam. Transformar reflexão em objeto. Fazer filmes com coisas.

Falar do processo literário de Elena Ferrante em seu O Ditado e a Margem e da ‘conversa’ entre Eco e Carrière em seu Não Contem Com O Fim do Livro, além dos Diálogos entre Borges e Oswaldo Ferrari.

A partir da leitura realizada pela turma do roteiro, propor o diálogo, onde os princípios norteiem as práticas.

Abertura à conversa com a turma.

Segundo dia

Como, a partir de uma provocação, procuro entender o tempo e o espaço onde minhas preocupações cabem – e elas devem caber em leituras no tempo. Talvez a leitura sobre o contemporâneo esteja escondida num tempo anterior ou posterior aquilo que queremos mostrar.

Sobre o Ambiente – de que maneira o desenho do ambiente, ou a intuição do ambiente, interfere na construção da escrita.

Entender onde a dramaturgia se insere para manipular melhor esse espaço e suas características.

Casos: A Festa da Menina Morta, Árido Movie, Amarelo Manga, Baixio das Bestas.

Exibição do filme Baixio das Bestas

Depois de escolhidos ou recortados os temas que permeiam minhas atenções, entender onde essa percepção se enquadra. Como que, pronta a moldura, sigo em busca de seu conteúdo.

Deslocamento da expectativa do tema no ambiente: onde minha construção cabe.

Falar da ‘descoberta’ de Carlos Reichenbach e sua construção sobre as angustias de suas personagens em seu espaço.

O cosmopolitismo periférico (Roberto Pires, Andrea Tonacci, Apchatpong, Chantal Akerman, Glauber Rocha, Marcelo Gomes, André Novais, Lucrécia Martel, Renata Pinheiro, Kleber Mendonça…).

O ambiente que proponho quando escrevo precisa conversar com minhas ferramentas e os possíveis orçamentos – mas claro que não estou sendo guiado pelo orçamento vertical, que obriga a obra. Nada contra, mas é outra história.

Quando reconheço o ambiente, e parto de uma ideia (princípio) que me norteia, chego a uma questão básica: a compreensão do tempo e do espaço.

Abertura à conversa com a turma a partir da leitura do roteiro.

Terceiro dia

Muitas experiências que tive com o cinema foi na sala de exibição. O espaço como símbolo e coletividade. Dentro desse espaço a personagem que leva a narrativa – o agente causador da mudança. Stanley Kubrick e Glauber Rocha: dois exemplos. 

Sobre as personagens – A construção das personagens é um dos momentos mais afinados em minhas buscas: quando posso lançar mão do contraditório?

Exibição do filme Febre do Rato

A personagem é o mecanismo do pensamento em movimento, mesmo que meu desejo seja desfazer a estrutura de seu pensamento.

Personagens de construção: Kika Canibal (Amarelo Manga), Clécio e Fininha (Tatuagem), Cícero e Everardo (Baixio das Bestas), Breno e Breninho (Fim de Festa), Zizo e Eneida (Febre do Rato).

O risco da leitura errada da personagem quando você não tem acesso a realização.

É necessário amar suas personagens. Não defendo minhas éticas a partir das personagens: elas precisam ter gordura suficiente para serem palpáveis. O caráter e a ética devem pertencer ao personagem. A estrutura da dramaturgia é quem provoca a reflexão.

Costuro as personagens dentro de meus propósitos e no ambiente que pensei. E assim vou nucleando-a, desenhando, dando-lhes corpo e emprestando-lhes contradições (o mais importante é entender o que a personagem é capaz de fazer além daquilo que você crê que ela faria).

A partir desse momento, eu já tenho uma estrutura onde consigo ‘esqueletar’ minha história, minha dramaturgia.

Abertura à turma a partir da leitura do roteiro.

Quarto dia

Assistir Rio Quarenta Graus, de Nelson Pereira dos Santos, o recorte da cidade e sua geografia, através da forma das personagens se expressarem, foi muito relevante em minha formação. A partir daí, abrir o leque de possibilidades de filmes que me ajudaram a ouvir o cinema. Estender para Carlos Reichenbach e a profundidade de campo dos sons. Falar sobre A Imagem Autônoma, de Evaldo Coutinho.

Sobre o diálogo – Aparado por minhas intenções, pelo espaço e pelas personagens, penso nesse processo de locução, de fala das personagens. Interessante aprofundar a questão do diálogo – mas problematizando seu uso. O diálogo não é necessariamente a fala, mas a troca, gesto, silêncio. O diálogo está na mente do assistente, assim como sua compreensão.

Exibição do filme Tatuagem

Exemplo de construções de diálogos dispares e de sua conduta: Amarelo Manga, Febre do Rato, Baile Perfumado, Fim de Festa, Tatuagem, Árido Movie, Chão de Estrelas.

A literatura e o diálogos: de que maneira me aproprio de ideias literárias para contornar pensamentos falados, emprestando-lhes banalidade.

Como externar a personagem que não domina as ferramentas intelectuais ou psicológicas para expressar o porquê de suas condutas.

O diálogo como problematizador do processo, e não sublinhador da ideia.  O desenho do diálogo e as intenções da fala me interessam.

O respeito e o desrespeito ao que foi escrito para ser dito: o que é passível de interferência no diálogo proposto?

Abertura à turma a partir do roteiro que foi lido.

Quinto dia

O que me chama atenção num filme é quando todas as questões das quais sou capaz de perceber, se comungam, se completam. E a ideia de completude não vem das articulações corretas, mas da capacidade de articulação, mesmo na adversidade. E essa urdidura, para mim, nasce no roteiro. Por várias questões, mas principalmente por entender que meu acesso à realização é limitado. Por isso, gosto de resolver questões no papel. Por isso tantas palavras, costuras, cortes e linhas.

O aprendizado do olhar a partir de seus enganos; as metodologias dos riscos e dos erros.

Sobre a periferia – Tudo que contorna meus roteiros me interessa. Tudo é complemento. Colocando em prática as consequências de minhas escolhas e entendendo onde ele reverbera em seu entorno. O que agudiza essas escolhas. A profundidade de campo das pequenas informações. Cabe no quadro tudo que o quadro pode falar.

Exibição do filme Fim de Festa

A periferia no Tatuagem, no Fim de Festa, no Baixio das Bestas. Entender o que cabe em volta das construções narrativas e que ferramentas utilizo para que passe a caber.

O aparentemente impossível pode se ajustar a partir da costura e do corte.

Roteiro e montagem: Tão próximos e tão distantes.

O que me interessa em tempos de streaming e megacorporações. O império do entretenimento.

Abertura à turma a partir do roteiro apresentado.

Encerramento.

Foto em destaque, o povo de Tatuagem: divulgação.

Foto de Hilton Lacerda: Ricardo Lasbastier / JC Imagem.

Edgard HomemAuthor posts

Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

Sem comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

20 − 2 =