Espetáculo teatral apresentado em São Paulo, em setembro de 2023, com dramaturgia assinada por Lena Roque e Marcelo Ariel, trouxe uma livre adaptação dos textos de Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista do Brasil, autora de Úrsula, publicado em 1859.

Devido à importância da peça que trouxe este resgate histórico, a Barraco Editorial acaba de lançar Maria Firmina dos Reis, presente!, o registro da peça. Na orelha do livro, a professora e cientista social Luciana Diogo assegura:

“A partir de agora temos em mãos — transposta dos palcos — toda a potência histórica e estética da vida literária de Maria Firmina transbordando por nossos bolsos, numa dramaturgia delicada, insurgente e provocativa de Lena Roque e Marcelo Ariel”, diz a professora, que é autora da obra Maria Firmina dos Reis: vida literária/Malê.

“A mente, essa ninguém pode escravizar”

Esta frase contundente abre o livro, assim como encerra a peça, em que Lena Roque dá vida à escritora. No prólogo, a atriz faz um breve resumo de quem foi Maria Firmina, uma maranhense nascida em 1825, filha de ex-escravizada, que se tornou professora, compositora, musicista e a primeira escritora negra a publicar um romance no país.

Na montagem, a atriz era acompanhada de um pianista e um percussionista. O texto sobre a carreira e a vida de Maria Firmina era intercalado com canções e poemas.

“Meus amores são da terra

Mas parecem lá do céu;

São como a estrela d’alva

São como a lua sem véu

Meu amor é flor singela,

Enlevo do coração;

Tímido como a gazela,

Ardente como um vulcão.”

Trecho do romance Úrsula também fez parte do enredo da peça e a personagem/escritora confessa que para publicar o livro usou o pseudônimo de Uma Maranhense. Um recurso criativo utilizado na montagem com o objetivo de trazer para os nossos dias a figura da escritora maranhense foi encenar uma entrevista por meio de um painel LED. Assim a atriz respondia a perguntas de mulheres negras vivas e atuantes, como as escritoras Eliana Alves Cruz, Luciana Diogo e Cidinha da Silva. As perguntas se referiam à história de Maria Firmina, mas continham questões ainda insolúveis no século XXI, como machismo, racismo e invisibilidade da mulher negra.

Outra passagem interessante da peça é uma discussão de Maria Firmina e Machado de Assis: a escritora fica indignada e diz a ele: “em pleno século XIX você não sabia da minha existência, nem da existência dos meus livros? Meu romance Úrsula foi publicado antes do lendário Navio Negreiro, de Castro Alves, mas, literalmente, passou em branco! Não faço parte da Academia Brasileira de Letras. Alguma mulher negra na ABL? Nunca.”

A peça, assim como o livro, termina com um pequeno monólogo de Maria Firmina dizendo que ela é a memória da liberdade:

“Sou o vento e o ciclone, eu sou todas as assassinadas, todas as humilhadas, todas as pisoteadas que se levantaram num grito de liberdade.

Sou Maria Firmina dos Reis, presente!”

O livro traz no final as partituras das canções apresentadas durante o espetáculo, além de um breve resumo das carreiras dos autores.

Lena Roque e Marcelo Ariel

Ficha técnica:

Título: Maria Firmina dos Reis, presente!

Autores: Lena Roque e Marcelo Ariel

Editora: Barraco Editorial, 60 pgs

Preço: R$59,90

Ele que assina a resenha.

Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

Imagem em destaque da capa e foto de Lena Roque e Marcelo Ariel: divulgação.

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Edgard Homem

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