Escritor nascido em Hallencourt, norte da França, em 1992, Édouard Louis vem sendo reconhecido pela crítica e pelo público por sua literatura de autoficção, que retrata as injustiças sociais e as dificuldades de sobrevivência das classes menos abastadas, além de denunciar a homofobia e a violência sexual doméstica.

Depois do sucesso com suas primeiras obras (O fim de Eddy/2018, Quem matou meu pai/2023 e Lutas e metamorfoses de uma mulher/2023), Louis retoma o tema sobre sua mãe: em Monique se liberta, com tradução de Marília Scalzo e lançado no Brasil pela Todavia, ele relata como ajudou sua mãe Monique a se libertar de uma relação opressora. Em pouco menos de 100 páginas, o autor conta em detalhes o processo de fuga da mãe, desde o primeiro telefonema em que ela pedia ajuda — morava no apartamento do opressor em Paris — até o momento em que ela reconstrói a vida numa cidade do norte da França.

Formado pela aclamada École Normale Supérieure de Paris, Édouard Louis, hoje aos 32 anos, é autor de seis romances com traduções em mais de 20 países. No entanto, teve uma trajetória árdua e de luta, retratada em sua obra, contra a opressão e as injustiças. O escritor esteve no Brasil em setembro para participar da Flip-Festa Literária de Paraty e divulgar Monique se liberta.

A obra é dividida em três partes: a primeira contém 63 páginas e traz todo o relato do processo de Monique para deixar o homem com quem vivia em Paris; a segunda parte, com 12 páginas, já mostra o mundo novo desta mulher e como vive na pequena casa no interior do país, totalmente livre. Neste trecho do livro, Louis também conta sobre a adaptação para o teatro de seu livro Lutas e metamorfoses de uma mulher, por um diretor alemão: a trama discorre como Monique se livrou do marido, seu primeiro opressor. A terceira e última parte é pequena e revela como Monique está plena de si e, justamente por isto, sugere ao filho que escreva outro livro contando sobre sua transformação.

Mais do que contar o passo a passo de Monique para deixar o homem com que vivia, o escritor ressalta a importância do sentido de liberdade para esta mulher. Nesse momento da trama, Louis cita o livro de Virginia Woolf, Um teto todo seu, em que a ilustre escritora britânica fala do que é preciso para uma mulher se tornar uma escritora:

“Um quarto, um espaço, paredes, chave, dinheiro: cem anos depois, é também do que minha mãe precisava; não para se tornar escritora, mas para se tornar uma mulher mais livre e mais feliz. Woolf já havia entendido, cem anos antes, que a liberdade não é, em princípio, uma questão estética e simbólica, mas uma questão material e prática. Que a liberdade tem um preço”, enfatiza o escritor.

Durante a leitura o leitor intui também que, além da conquista da liberdade de Monique, Édouard Louis revê a sua relação com a mãe, pondera sobre suas atitudes e finaliza a obra confessando:

“Por meio dela (Monique), descobri o prazer de escrever a serviço de outra pessoa. Aprendi o encanto da invisibilidade, de me tornar apenas um olhar na história de um destino que não o meu. Este livro é resultado de uma encomenda da minha mãe. E nada na literatura me deixou mais feliz”, conclui.

Ficha técnica:

Título: Monique se liberta

Autora: Édouard Louis

Editora: Todavia, 96 pgs

Preço: R$54,90

O autor da resenha.

Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

Foto de Édouard Louis em destaque: Arnaud Delrue

Imagens da capa do livro e de Maurício Mellone: divulgação.

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Maurício Mellone

Jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

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