A única forma de curar as feridas, em especial as primitivas, subterrâneas, infantis, é reconhece-las, jamais aprisiona-las.
Na tentativa, até bem intencionada, de nos proteger, o ego propõe-se a encarcerar as nossas mágoas, mas o que consegue é nos enjaular: são incontáveis os reféns da fuga de si mesmos e essa legião de assustados faz do mundo um campo de batalha – quem tem medo ataca.
Em Mukha Dhouti, a artista visual pernambucana Dayse Pontes decidiu vomitar através de 14 telas, alguns frutos nefastos dos nossos medos pessoais: racismo, nazismo, gordofobia, homofobia, etarismo, a extinção da natureza, a gente anestesiada pelas redes sociais e há ainda, entre outras exalações, o vômito-grito-de-protesto-social que pleiteia, ao fim de tudo, amor.
Praticante do Yoga, Dayse Pontes gestou Mukha Dhouti por 8 anos.
Mukha Dhouti vem do sânscrito, língua morta do Nepal e Índia, e significa algo como estado de purgação – isso através da prática da respiração intensa que limpa o esôfago, os pulmões e o estômago.
Mukha Dhouti é ritual de cura.
Aqui, o convite à purificação do inaceitável dar-se-á através de uma arte assumidamente bela e política (porque prega a revolução de si e por conseguinte, do mundo). Discurso que é desenvolvido por obras figurativas, quando é sugerido, e abstratas, quando quem vê está 100% livre para criar narrativas singulares, intransferíveis.
Essencialmente pintora, Dayse Pontes está, desde 1979, na lida da Arte e, não tenho dúvida, madura no ponto. O lugar dela é onde ela quiser.Avante!

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A exposição Mukha Dhouti, aberta no domingo 21 de março de 2025, segue em cartaz até o dia 1º de junho, na Torre Malakoff, de terça a sexta-feira, das 10h às 17h, e os domingos, das 14h às 18h. Entrada gratuita. A Torre Malakoff fica na Praça do Arsenal, sem número, Bairro do Recife, Recife.

Foto de Dayse Pontes, a artista em exposição, e sua obra, Kria 1 (técnica mista, 2021): Carol Chaves.
Foto de Edgard Homem: Ademar Filho.
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