Como é do conhecimento de muitos, meus artigos refletem temas vivenciados por mim, por pessoas conhecidas e também consideram histórias de pessoas não tão próximas assim, mas que servem de referência para nortear a narrativa 50+.

Não é de hoje que as redações das televisões, assessorias de imprensa e os poucos jornais impressos que ainda sobrevivem têm demitido os profissionais mais experientes. Digo, com mais de 25, 30 anos de atuação. As desculpas são quase sempre as mesmas: redução de custos, renovação da equipe ou em alguns casos, o que é ainda pior, sem explicação alguma. E o primeiro pensamento que nos toma, sem dúvida, é o idadismo. Não há como evitar.

Idadismo ou etarismo é um preconceito que se baseia na idade, afeta a vida profissional e a vida como um todo.

No jornalismo, minha profissão e aqui em questão, o etarismo engrenou a primeira marcha, chegou rapidinho na quinta e não parou mais. Esse movimento tem sido notado, especialmente, nas emissoras de televisão, onde vários jornalistas veteranos foram e têm sido demitidos nos últimos meses e anos. De 2023 para cá, só piorou. Tudo isso porque muitos dos novos executivos e gestores das redações buscam renovar o quadro de repórteres, editores e produtores das empresas.

E tal prática tem gerado muita discussão e polêmica. Afinal, é inegável que profissionais mais experientes contribuem, expressivamente, numa redação: têm conhecimento de causa, a dita bagagem; sabem como lidar com situações adversas dentro da própria estrutura corporativa e em relacionamentos interpessoais.

Vamos colocar isso em dados.

Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o mercado de trabalho formal no jornalismo demitiu mais do que contratou em 2023. Enquanto isso, o emprego com carteira assinada cresceu 3,5%, o equivalente a 1,5 milhão de novos postos de trabalho celetista.

Contudo, o mercado de trabalho formal para jornalistas continuou ladeira abaixo.

Em 2024, o saldo de empregos com carteira assinada teve crescimento de 16,5%, em relação ao registrado em 2023; segundo os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Em 2023, mais de 800 jornalistas perderam seus empregos com carteira assinada, já no ano passado, esse número subiu para 962 vagas perdidas.

Foram quase mil vagas, em menos de dois anos. Se fizermos um recorte, algumas funções escaparam da degola. Entre elas: repórteres de rádio e televisão, assessores de imprensa, designers gráficos e produtores de texto. Por outro lado, os editores foram os mais afetados.

No cenário nacional, São Paulo lidera tanto em contratações, mais de 5 mil, quanto nas demissões, 5,8 mil. Sozinho, o estado responde por 68% da perda de empregos formais no jornalismo.

E eu estou nessas estatísticas.

Nós mulheres, somos as mais atingidas e não apenas no ramo da comunicação. Estudo feito pela Maturi, plataforma voltada para os 50+ junto com a NOZ Inteligência, empresa de pesquisa e inteligência de negócios, revelou que cerca de 70% das mulheres maduras já estão em transição de carreira no mercado, contra 65% do universo masculino. Os dados mostram ainda que 55% delas querem atuar como consultoras, freelancers ou autônomas. E 38% têm o desejo de empreender.

Com mais de 30 anos de atuação na área, meu último trabalho freelancer numa redação de televisão, em Florianópolis, foi em 2023. As portas daqui se fecharam para trabalho CLT.

Ficar dando murro em ponta de faca, com o pires na mão, implorando por um CLT nas redações da capital catarinense, não estava nos meus prognósticos. E eu disse isso, claramente, em algumas empresas. Porém, eu preciso de uma carteira assinada, pois vai contribuir muitíssimo para minha aposentadoria. Afinal, vou me aposentar por tempo de trabalho e por idade (essa junção irá permitir minha aposentadoria, daqui a quatro anos e meio).

Sendo assim, resolvi enviar meu currículo com as minhas experiências profissionais na área do varejo, porque conheci “esse mundo” quando tinha apenas 22 anos. Logo, não era algo fora do meu alcance e competência. E aí, as portas se escancararam aqui em Floripa, inclusive, em campos que nunca atuei: nos segmentos da alimentação (cafeteria) e vestuário infantil.

Então, a pergunta que fica me incomodando, como uma pulguinha atrás da orelha é: sou APTA para trabalhar em outras áreas, mesmo naquelas que não tenho experiência (muitas empresas dão treinamento), no entanto, não sou mais “aderente” às vagas de jornalismo aqui em Florianópolis. Por quê? Eu mesma respondo: etarismo. E, igualmente, as famosas panelinhas ou para ser fofa: o famoso QI (Quem Indica). Como não tenho “Quem Indique” graúdo e a idade chegou e eu me orgulho dela; trabalhei por três meses, na nossa temporada de verão, como freela nessas áreas que mencionei acima. Difícil adaptação? Em algumas delas, sim. Impossível, nunca! Mas continuo sendo colunista aqui no Blog e desenvolvendo mentorias em MKT digital pelo Sebrae-SC.

Só que esses trabalhos não são CLT e aí voltamos ao ponto de partida: vou trabalhar em áreas diferentes para poder computar para a minha aposentadoria, entretanto, vou continuar atuando como jornalista: CLT ou não!

Os colegas jornalistas sabem que as companhias de comunicação valorizam a juventude, a rapidez, e não a experiência e o conhecimento acumulado. Aliado a isso, querem a redução de custos e buscam por profissionais mais baratos e que desempenhem o mesmo trabalho. Ou seja, que carreguem o “piano nas costas”. E nem é preciso ser vidente para prever que a qualidade dos conteúdos vai cair.

O que sempre pontuo, assim como meus colegas de profissão que combatem o etarismo, é que é preciso ter gente jovem e gente experiente nas redações – as diferenças propiciam trocas extremamente ricas e produtivas. Para todos.

A intergeracionalidade pode permitir que os mais jovens entendam que o envelhecimento é um processo natural e que profissionais acima dos 50 anos são competentes e capazes de aprender – sempre!

No próximo texto aqui da coluna, vou falar sobre a geração Z – que tem deixado muitos recrutadores e gestores enlouquecidos.

Depois de um longo jejum de artigos, voltarei em breve. Até já, queridos leitores!

Foto em destaque, Simone Magalhães e colegas em temporada hostess ou anfitriã: divulgação.

Simone Magalhães é metade Pernambuco, onde nasceu, e metade Santa Catarina. É graduada em Comunicação Social pela UFPE e tem especialização em MKT digital, pelo Impact Hub / Sebrae-SC.

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Simone Magalhães

Metade Pernambuco, onde nasceu, e metade Santa Catarina. É graduada em Comunicação Social pela UFPE e tem especialização em MKT digital, pelo Impact Hub / Sebrae-SC.

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