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assim como o dicionário formal da língua portuguesa não reconhece a palavra relicária, a história oficial do frevo, ritmo fundamental de Pernambuco, não contempla, como deveria, as mulheres na sua gênese.

Pesquisa inédita realizada aqui (PE) começa a tirar da invisibilidade a história de negras capoeiristas, trabalhadoras, marginalizadas, que viveram no Recife na época em que o frevo dava os seus primeiros passos – e que foram presas, simplesmente, por dançá-lo na via pública.

Os vestígios da presença dessas mulheres emergiram das páginas policiais de jornais do início do século XX.

Agora, passados mais de 100 anos, a pesquisa Relicárias: vasculhando e (re)contando histórias de mulheres negras na dança do frevo dá nome, corpo e voz a essas pioneiras.

A mostra do processo de pesquisa, em formato de apresentação artística, será hoje, domingo, 26 de maio de 2024, às 15h, no Paço do Frevo – a entrada é gratuita (mediante distribuição de senhas) e há acessibilidade em LIBRAS.

Aprofundando

À frente da investigação estão as dançarinas e pesquisadoras Rebeca Gondim, Marcela Felipe, Ailce Moreira, Bell Puã e Vanessa Marinho.

Nos últimos dois anos, elas debruçaram-se em textos e imagens sobre o frevo, dedicadas a dar vida a mulheres como Olindina Olívia da Conceição e Maria da Hora Tavares, a Maria Facão, encarceradas por (supostamente) cometer delitos, tipo: jogar capoeira, embriaguez e ‘ouvir música em frente a uma festa privada’.

A partir dos vestígios encontrados nos jornais da época, as pesquisadoras buscaram recriar de forma poética as biografias das personagens da vida real, recheando-as com dados históricos, elementos visuais da dança, como o figurino e o território onde viveram as personagens; a gestualidade e os passos executados àquele tempo e apresentá-las em carne e osso.

‘Além de Olindina e Maria Facão, o público vai conhecer Ana Maria Luiza Tavares da Conceição, a Neidinha, uma terceira personagem que é uma junção de várias outras mulheres que apareceram na pesquisa, trabalhadoras da rua, como as quitandeiras, sem ter sequer seus nomes citados’, diz Rebeca Gondim.

Segundo ela, das partes mais difíceis foi levantar a forma de dançar das antepassadas. ‘Trabalhamos a imaginação tendo como base os movimentos da capoeira e as experiências corporais de cada uma’.

Estudo

A tarefa foi realizada em três etapas, nas quais a equipe aprofundou os conhecimentos em laboratórios de criação conduzidos por artistas e pesquisadores convidados.

A historiadora Vanessa Marinho conduziu a pesquisa historiográfica.

A poeta e escritora Bell Puã guiou o laboratório de poesia e performance (escrita, corpo e voz).

O fotógrafo e artista visual Filipe Gondim e a dançarina e figurinista Maria Agrelli dirigiram a oficina para levantamento dos elementos visuais da dança, entre fotografias e figurinos.

O grupo realizou entrevistas com dançarinas contemporâneas de frevo: Zenaide Bezerra, Lucélia Albuquerque, Geciland Monteiro (Landinha), Valéria Vicente, Dadinha Gomes, Renach Reiva, Francis Souza, Marinez Barbosa e Joelma Evaristo.

O projeto Relicárias: vasculhando e (re)contando histórias de mulheres negras na dança do frevo foi contemplado com o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura |FUNCULTURA PE.

E por fim…

Há o podcast produzido por Janaína Oliveira, do @negraslinhas, com áudio-conversa sobre o processo da pesquisa e as histórias das mulheres perscrutadas, além de fotocolagens das personagens pesquisadas – esse material será lançado sexta-feira, 31 de maio, no perfil do Instagram @relicariasdofrevo.

Ficha técnica

Artistas-pesquisadoras: Ailce Moreira, Bell Puã, Marcela Felipe e Rebeca Gondim

Pesquisadora-historiadora: Vanessa Marinho

Artista, pesquisador-visual e fotógrafo: Filipe Gondim

Produtora e figurinista: Maria Agrelli

Consultora da pesquisa: Ailce Moreira

Gravação e edição do podcast: Janaína Oliveira | podcast Negras Linhas

Intérprete de Libras: Joselma Santos e Jéssica Santos

Consultoria de Acessibilidade: VouSer Acessibilidade | Andreza Nóbrega

Assessoria de Imprensa: Ana Nogueira

O Paço do Frevo fica na Praça do Arsenal, Bairro do Recife, Recife.

Foto em destaque das bailarinas Ailce Moreira, Marcela Felipe e Rebeca Gondim: Filipe Gondim.

Edgard HomemAuthor posts

Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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