Nos seus tempos como repórter, nunca gostou de ir ao hospital infantil da cidade. Sempre achou que criança jamais deveria ficar doente. Por que será que Deus permite? Meninos e meninas combinam com brincadeiras, descobertas, risadas.

Numa dessas visitas ao hospital, para fazer mais uma matéria sobre algum assunto ligado à saúde das crianças, ela conheceu um menino com nome de anjo. Um garoto de cinco anos, que era do jeito que todos nasceram para ser: alegre, cheio de energia, e, o mais importante, olhinhos brilhantes.

Lembrou da infância. A praia de Boa Viagem era o palco principal, com suas piscinas naturais, sargaço, piche nos pés e picolé de cajá.  Pena que essa época, tão exaltada num famoso choro de Ataulfo Alves, marca também um momento que é como um balde de água fria.

A descoberta de que nem sempre as coisas são como a gente gostaria que fossem. Pior que isso. Na maioria das vezes, as coisas não são como nós gostaríamos. Não podemos tudo, não teremos todos os desejos satisfeitos.

Os psicólogos sempre alertam sobre a importância do “não” na infância para evitar problemas futuros, adultos imaturos. Ela, inclusive, já havia entrevistado alguns profissionais. Mas, bem que essa descoberta poderia acontecer mais tarde. A fantasia de meninos e meninas deveria se prolongar para que todos pudessem aproveitar ao máximo. Realidade demais é chato em qualquer fase da vida. 

Nessa ida ao hospital, ela voltou sua atenção para o pequeno com nome de anjo. Ele estava insatisfeito em apenas brincar com o seu carrinho, demonstrava impaciência. Queria correr solto pelos corredores com o seu tênis de super-herói. A mãe, enérgica, soltou um “Fica quieto menino!”. Ele olhou para a repórter sentada na cadeira em frente, e riu. Foi quando ela puxou conversa. O menino disse seu nome e, com a palma da mão, revelou a sua idade. A mãe, então, levantou-se para irem embora, e ele saiu olhando para trás, sorrindo.

Daniella Freitas é jornalista e contista.

Fotos: divulgação.

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Edgard Homem

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