Clarice Lispector dizia que “…escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se inscreveu.” 

É exatamente assim que percebi, como leitor, este livro Em Terceira Pessoa (Editora Litteralux), da escritora e jornalista Daniella Freitas. O lançamento da obra será realizado no dia 7 de dezembro próximo, no Coffee Cube Jaqueira, a partir das 16h.

São dezoito contos da mais pura delicadeza, sobre a densidade da vida cotidiana, em seus elementos mais simples, concretos ou imaginários. Elementos, muitas vezes (ou será que na maioria das vezes?) imperceptíveis no decorrer acelerado do dia, das semanas, dos anos.

Vemos, entre outros, o poeta Maiakovski bater à porta da solidão dos encarcerados pela pandemia, em A Visita (conto que ficou entre os selecionados do concurso Contos da Quarentena, da Livraria Lello – Porto, Portugal); o enigma da vida de uma galinha, em sua existência atenta-desatenta, em A Galinha Irene; e o raro prazer de mergulhar no mar, no horário de expediente – a liberdade plena num simples “delito” –, em Correndo Juntos

A cada palavra dos seus contos, Daniella vai jogando iscas para morder a não-palavra, no sentido clariciano, o de ler as entrelinhas, como inscrição única de cada leitor.

Em Terceira Pessoa, desviamos o olhar da vida brutal das redes sociais, tão inescrupulosas e sem poesia ainda, para uma esperança de cor azul, como em Bilhete Azul, um dos últimos contos deste livro. O simples é azul, como o grandioso mar!

Expediente:

Angelo Brás Fernandes Callou

Ele é Doutor em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, com pós-doutorado em História e Cinema pela Universidade Nova Lisboa.

Imagem de abertura do texto: O Simples é Azul, acrílica sobre tela de 2024, 15cm x 15cm, quadro assinado por Angelo Brás Fernandes Callou.

Demais imagens: divulgação.

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Angelo Brás

Doutor em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, com pós-doutorado em História e Cinema pela Universidade Nova Lisboa.

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