Os novos amigos: livro retrata a amizade entre cinco adolescentes. Por Maurício Mellone

Aposentada há alguns anos, a pernambucana Nadyr Maria de Carvalho Manguinho resolveu enfrentar um desafio: se aventurar no mundo das palavras e acaba de lançar seu primeiro livro, Os novos amigos, editado pela SF Editorial.

A obra retrata um ano inteiro na vida de cinco adolescentes: já no primeiro dia de aula um aluno bolsista que acabara de chegar numa escola particular é agredido por um colega, conhecido por todos como o brigão da turma. Marcos, o novato, é um garoto negro e recebe a ajuda de Carlos, assim como de Marta e sua irmã Gabi e de Rafa, que é cego. Pronto (como se diz aqui no Recife): de um acontecimento nada agradável, uma briga violenta entre adolescentes, nasce uma linda amizade entre cinco jovens. E este amor se transborda para as famílias de todos eles.

Como bem demonstra a capa do livro, uma ilustração de Nelly Vieira, os cinco jovens são como os dedos de uma mão, cada um com sua especificidade e característica, mas nem por isto se separam. Pelo contrário, a diversidade faz com que Marcos, Rafa, Carlos (ou CR como é chamado entre eles), Marta e Gabi se unam cada vez mais. A negritude, a deficiência visual, a orientação sexual e a questão de gênero são características dos cinco amigos, mas nada impede que eles se conheçam e passem a agir como grupo, numa relação de amor e amizade sincera.

Logo nas primeiras páginas o leitor encontra um gráfico, com a descrição da árvore genealógica de cada um dos adolescentes. No início parece só uma ilustração, mas com o desenrolar da trama invariavelmente o leitor vai precisar recorrer ao gráfico para identificar quem é quem na história, devido ao grande número de nomes.

O livro é dividido em 28 capítulos e a história vai evoluindo do início do ano letivo até as férias de final de ano. Desta maneira, o leitor vai conhecendo o cotidiano e as personalidades de cada um dos cinco amigos, assim como as relações que eles têm com suas famílias. Como eles ficaram próximos rapidamente, as famílias também foram se conhecendo e a autora descreve com riqueza de detalhes as festas, almoços e encontros entre eles.

Por meio da descrição da relação que se dá entre Marcos (Quinho, como é chamado por todos), CR, Rafa, Marta — que estudam na mesma classe) — e a caçula Gabi, vários temas são apresentados pela autora. Um dos que me chamou muito a atenção é a questão da negritude. Quinho é um garoto que sofreu uma violência de policial quando menino, mas graças a orientação de seus pais, avós e principalmente da Bisa (uma senhora esclarecida, lúcida), é bem resolvido, mas sofre muito quando precisa lidar com situações de racismo estrutural, infelizmente muito comum ainda na sociedade brasileira. Numa passagem, os amigos querem andar de ônibus e Quinho os leva; mas há uma batida policial e ele é o único a ser revistado:

“Depois de um silêncio constrangedor, Rafa perguntou:
— Por que ele cismou com Quinho? Estávamos todos juntos?
Quinho interviu:
— Porque eu sou preto. A polícia gosta de humilhar, ferir e matar os negros.”

A homofobia é outro tema discutido no livro. Numa das passagens, o garoto brigão novamente entra em atrito com um menino, que todos sabem que é homossexual. Na sala do diretor, o brigão/machão discorre inúmeros impropérios. A cena serve mais para ressaltar o nervosismo e o constrangimento de CR diante da homossexualidade. Quinho, muito próximo do amigo, percebe e não consegue ficar calado. Um dia ele é incisivo e quer saber se CR é gay. A reação não podia ser pior: Quinho leva um soco no rosto. Mas esta situação constrangedora faz com que CR aos poucos vá compreendendo o que se passa em seu íntimo. No entanto, o primo de Marta, Theo, é casado com Bem, e este casal irá transformar a vida de CR.

Os novos amigos é uma obra sobre adolescentes e voltada aos jovens. Mas os adultos e pais podem se identificar com os personagens e até aprenderem muito. Nadyr Manguinho desenvolve seu primeiro livro com uma linguagem simples e direta. No início comete alguns deslizes, como por exemplo, descrições minuciosas demais, que chega a cansar o leitor com tanta informação. A ação fica truncada. Mas com o decorrer da narrativa o leitor se envolve na relação fraternal entre os cinco adolescentes. A autora me confessou que a história terá continuidade e a questão da diversidade sexual, ampliada. Esperemos pelo segundo livro.