10 anos após, ou quase isso, reencontro Thiago Freitas, o chef, no bairro da Boa Vista. Imediatamente, o Thaal Cuisine vem à consciência.

Revejo a garota do receptivo: ela vestia sari, tinha tatuagens de henna e o olhar pronunciado pelo delineador preto – e as garotas que atendiam as mesas, idem. Não era um restaurante indiano, mas a mística funcionava como um passaporte para outro lugar que não o ordinário, que não o dia a dia.

Colocando um par de sapatinhos de chumbo na minha imaginação, o restaurante Thaal pode ser classificado como contemporâneo – digo pode, no presente do indicativo, porque Thiago, o recheio de tudo isso, continua inusual, ativo e operante nos Estados Unidos. Isso, nos EUA.  

‘A gastronomia que faço não tem fronteiras. Posso aplicar as técnicas francesas aos ingredientes brasileiros, indianos, japoneses… Posso não, faço isso com frequência’, diz.  

O Thaal funcionou entre 2010 e fins de 2014, à Rua Marquês de Tamandaré, 203, Poço da Panela, Zona Norte do Recife, em um casarão azul de 1880.

Foto rara, de 2011, da fachada. De BN. para o Foursquare.

Fuçando meu baú digital, encontrei uma robusta nota publicada no Blog Fernando Machado, na qual ele descreve o menu do jantar oferecido aos jornalistas convidados para conhecer a casa:  

‘As entradas devem ser comidas com hashi, ou em paletas de cores de pintor, ou então com talheres normais… Tudo com muito charme.

O chef Thiago Freitas brinca com os sabores e com a apresentação dos pratos.

Salmão Czar, Samosas, Foie Thaal e Tapas (não confundir com agressão), como entradas.  Os pratos principais foram Agnus Dei (carré de cordeiro texturizado), Coturnix (codorna desossada recheada com farofa de castanhas e purê de foie gras) e, finalmente, o Sarcófago Espanhol (batata crocante recheada com mousseline de safrón, guarnecida com frutos do mar)’.

Menu de 2013. Foto de Laurinha M. para o Foursquare.

O começo

‘Desde pequeno e eu não sei porque, eu gosto de cozinhar. Meu irmão saia pra jogar bola e eu ficava em casa cozinhando. Isso já por volta dos 11 anos’.

So sweet

‘A habilidade manual e o amor por tudo que é doce, herdei da minha mãe, Gorethe Barros, uma confeiteira artística incrível e craque no artesanato’.

UFRPE

‘Quase fui arquiteto, mas passei no vestibular para a primeira turma de Gastronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, me formei em 2009’.

As casas do caminho

Antes de inaugurar o Thaal Cuisine, em parceria com o irmão George Freitas, Thiago Freitas chefiou durante 1 ano a cozinha do Libório, nas Graças.

Passou pelo É e Café Porteño.

No Bistrô Bio Salute, em Casa Forte, instalado na academia de mesmo nome, flertou com a alimentação saudável. Tanto, que a malhação tornou-se ritual – não vive sem.   

Sete meses após o encerramento do Thaal, abriu o Budhakan Cuisine, no Pina, em 48 dias. Pode?

Também no percurso, a Freitas Chocolaterie.

Tio Sam

‘Em março de 2018 parti para o centro-oeste dos Estados Unidos, para Indiana, com US$500,00 no bolso. Sou sagitariano e sempre quero o novo, mas Indiana é um lugar muito conservador, agrícola, bem diferente de mim.

Não hesitei quando pintou uma oportunidade em Miami. Trabalhava 11 horas por dia num restaurante e tinha, apenas, 5 minutos para almoçar.

A próxima parada foi numa bakery em Boca Raton, também na Flórida. Melhorou, mas foi rápido.  

Volto para Miami, para o Sagrado Café, onde passo 1 ano e junto dinheiro para tirar o visto EB2, específico para as habilidades extraordinárias.

Em julho de 2019 desembarco em Chicago, com meu inglês quase zero, para comandar a equipe da bakery Maison Parisienne.

Vem a pandemia, para tudo, e aí decido trabalhar para mim, sem intermediários.  

Comecei fazendo bolo de cenoura. Vendia por US$25,00. Com a ajuda das blogueirinhas brasileiras de Chicago, o negócio cresceu. Foram surgindo as primeiras encomendas de jantar e agora eu sou solicitado para cozinhar em New York, Los Angeles, Miami e Chicago.

São eventos privados, quase sempre para famílias ricas que exigem o máximo de privacidade. Flutuo entre o Personal Chef, quando acontece a contratação por ação: jantar, almoço, brunch, etc. e o Private Chef, quando se fica exclusivo, à disposição de uma família; tenho evitado esse formato, pois toma todo o tempo de vida da gente’.

Thiago curtiu as férias de fim de ano no Brasil, borboleteou entre as praias do Nordeste. Contudo, a volta já está agendada: como bom pernambucano que é, o Carnaval do galego é no Recife.

E aguardem o Thaal Experience. Será aqui.     

Personal chef na labuta.
Com Vini Jr. em Miami, cliente que é o melhor do mundo.

PS: antes de terminar, uma explicação: Thaal, no hinduísmo, é a música cantada durante as oferendas de alimento aos deuses e deusas.  

Foto em destaque de Thiago Freitas: divulgação.

Demais imagens com o chef: também divulgação.    

Edgard HomemAuthor posts

Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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