Era 1947 e era Carnaval. Um grupo de rapazes da Rua do Amparo e dos Quatro Cantos saiu pelas ladeiras de Olinda, todos com os dorsos nus, a segurar galhos de pitombeira e compor músicas aleatórias – pois é, A Troça Carnavalesca Pitombeira dos Quatro Cantos nasceu assim: ousada, alegre, íntima do improviso.
É 2022, o segundo ano de não-Carnaval ou Carnavácuo, como diz a multiartista Catarina Deejah, e será o terceiro ano em que a Pitombeira pleiteará tornar-se Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco.
Não entendo como ainda não o é. Pode isso produção?
Se a folia da Marim é ousada, alegre e íntima do improviso, deve muito ao DNA da Sra. Pitombeira dos Quatro Cantos, hoje com 75 anos completos.
Enfim, passamos a palavra para Thiago Santos, Diretor da Pitombeira dos Quatro Cantos, Antropólogo e Cientista Social:
‘Aos 75 anos, a Troça Carnavalesca Pitombeira dos Quatro Cantos se vê frente a necessidade de reconhecimento e valorização, através de sua indiscutível importância para o Carnaval e para o Frevo, na busca do título de Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco. A defesa da Pitombeira como legítima merecedora do registro está assentada no passado e em seu presente, nitidamente calcados na constância e diversidade de suas atividades, mesmo em meio a pandemia.
São vários os aspectos que garantem sua consolidação enquanto forte concorrente, pois trata-se de um agente decisivo na preservação das tradições do Frevo e do Carnaval, bem como sua perpetuação e transmissão dos saberes.
O primeiro encontra-se no indissociável entrelaçamento entre o desenvolvimento da Agremiação e do Carnaval de Olinda, numa relação mútua de produção das identidades locais e suas significâncias. A Pitombeira é responsável por inovações técnicas e estéticas em seus desfiles, o uso de recursos até então impensados nas ladeiras da cidade, como a transposição e adequação do luxo dos desfiles das escolas de samba nas passarelas do Rio de Janeiro à geografia do Sítio Histórico. Ainda pela produção de atividades anuais, gerando um calendário de ensaios e desfiles, entre outras práticas, propiciando que não só a Pitombeira tomasse contornos próprios como também ser referência, quando suas práticas passam a ser incorporadas por outras agremiações que compõem o Carnaval de Olinda.
O segundo está relacionado com o compromisso que assume com a perpetuação da transmissão de saberes e práticas vinculadas ao Frevo e ao Carnaval de Rua. Atuando diretamente na formação das pessoas, a Pitombeira há mais de 20 anos oferta em sua sede aulas de frevo enquanto música e dança, gratuitamente, tendo formado duas orquestras e diversos grupos de passistas.
Indiretamente, ela também contribuiu de maneira decisiva para a cidade de Olinda ao tornar seu principal produto turístico acessível num calendário que está para além da festa de Momo, incidindo sobre comércio, lazer, turismo e a própria preservação do Frevo e do Carnaval.
A maneira pela qual a Pitombeira atua desde sua fundação demonstra que ela é legítima merecedora deste reconhecimento, pois é inegável a centralidade que teve e tem para a identidade e preservação do que entendemos hoje como Carnaval de Olinda, de Pernambuco. Estamos contando com a sensibilidade do Governo, bem como dos Conselheiros que integram o Conselho de Preservação/PE para garantir o título a esta manifestação do povo, que carrega em seu estandarte o nosso valor de tradição e inovação do Frevo, expressão maior do nosso Carnaval. O incansável trabalho da nossa agremiação há mais de sete décadas, nos rendeu as credenciais necessárias ao reconhecimento legítimo de Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco”.
“Se a Turma não saísse, não havia Carnaval,
Se a Turma não saísse, não havia Carnaval”.
Fotos: acervo Pitombeira.
ela deve ser reconhecida como patrimônio vivo de Pernambuco. Ela é uma das salvaguarda do frevo na cidade de Olinda. Reconhecer esse valor seria o melhor presente nesses seus 75 anos de existência e resistência a cultura popular brasileira. Se a turma não saísse não havia carnaval…. Precisa dizer mais alguma coisa?