Solicitei à arquiteta que incluísse, na criação do armário da sala, uma prancha retrátil, numa altura que meu cachorro não alcançasse os pincéis, os vasos com água e as aquarelas líquidas. 

Levei um tempo para descobrir o porquê de Kalu ficar tão irritado, quando começo a pintar. É que me abstraio de tal maneira que o coitado se sente totalmente excluído do mundo. Aliás, este é um dos motivos pelos quais mexo com tintas sobre papel.  

Escolhi o tema da agrofloresta para pintar 9 aquarelas porque considero o aspecto mais interessante do campo científico da Agroecologia. 

A agrofloresta imita a própria natureza, na produção de alimentos. Recorre a uma espécie de sistema de antanho de uso da terra, com conservação do solo, em que espécies de árvores frutíferas, ou não, se associam à produção agrícola, com resultados econômicos e ecológicos consideráveis. Isto é, em vez de só cana, em vez de só pasto, em vez de só soja, em vez de só trigo, em vez de só café, têm-se frutas, madeira, hortaliças, grãos, entre outras possibilidades agroflorestais. Reconstrói e/ou conserva a flora e a fauna nativas, com a participação e os conhecimentos de agricultores e agricultoras, acumulados de geração em geração, na produção de alimentos, sem uso de agrotóxicos.

É luxo só. Nossa saúde e o meio ambiente agradecem. 

A Série Agrofloresta foi feita com alguns acidentes, como a queda de um vidro da aquarela líquida, na cor magenta, sobre o chão e móveis brancos da sala. Seu encrenquinhas, nas suas tentativas, em vão, de alcançar a prancha alta, me fez derrubar o líquido vermelho, qual uma cena com sangue, em filmes americanos.

Mas o pior “acidente” viria dias depois da série concluída: a PEC do veneno, como ficou conhecida a Proposta de Emenda à Constituição, que flexibiliza as regras de uso de agrotóxicos no Brasil, foi aprovada pela Câmara dos Deputados, no último dia 9.

Quem expurgará essas tintas magentas sobre os verdes campos brasileiros?

Somos parte da natureza. Queiramos ou não.
É preciso comungar com a natureza. A ciência sinaliza hoje que os hippies tinham lá seu punhado de razão. Não é danado isso?
O maior partido político da Terra é a prória Terra. Ela quem manda.
Angelo Brás Callou é professor titular do Departamento de Educação da UFRPE. E Kalu, seu cachorro, é o professor dele.

Confira o vídeo com todas as aquarelas da série pintada por Angelo Brás Callou, link: https://www.facebook.com/angelo.bras.callou/videos/1403583346759515/

Um PS: as legendas das fotos são minhas, gracejos meus, ok?

Fotos: divulgação.

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Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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