O Teatro é uma escola. Se comparado ao ensino formal, o Teatro, por sua história e disciplinas inerentes e necessárias ao seu estudo, contempla do infantil ao ensino médio, da graduação ao pós-doutorado.

Porém, o escopo do Teatro como escola é muito mais abrangente, não cabe nas caixinhas do ensino tradicional.

O Teatro é ritual, arte iletrada, oralidade, dança, herança. Sua origem permeia a história da humanidade. Os primeiros registros estão pintados nas pedras, junto às cenas de caça das gravuras rupestres.

Na Grécia, as arenas a céu aberto com assentos de pedra dispostos no relevo do terreno, em torno de um centro para onde convergem os olhares de quem está sentade, um lugar de onde se vê, estão aí para nos lembrar quão antiga é a forma do edifício teatral tal como o conhecemos hoje.

Costumo falar para quem me diz que gosta muito, mas que “não tem jeito para a coisa”: tudo serve para o Teatro. Quando falamos de Teatro muitas pessoas só pensam no ato de representar. Teatro é, também e sobretudo, luz, som, vestuário, marcenaria, literatura, história, música, dança, comunicação, ensino, magia, intuição, religião, política… Teatro é a união de pessoas. Eu poderia concluir com essa frase, mas é preciso especificar, pois isto é uma espécie de chamamento, uma tentativa de atrair pessoas para essa escola que eu amo. Teatro é a união de pessoas e seus conhecimentos em pedagogia, psicologia, arquitetura, contabilidade, administração, empreendedorismo (cada vez mais), jornalismo, fisioterapia, fonoaudiologia, marketing, física, química, recursos humanos, vendas, devo ter esquecido de alguma que com toda certeza também serve ao Teatro.

Estudar a História do Teatro é conhecer a história do mundo. Assim como uma etnia, um povo ou uma classe social, o Teatro sofreu ao longo da sua trajetória tentativas de extermínio por parte de governantes. Em Roma, foi proibido e expulso das arenas para dar lugar às lutas de morte entre homens e animais, mas como um rio, que desvia das pedras que encontra pelo caminho, desaguou nas feiras e ali frutificou.

Até hoje há quem queira banir o Teatro, extinguindo os meios econômicos que o viabilizam, criminalizando artistas que vivem do Teatro, abandonando o edifício teatral até virar ruína, dificultando o acesso aos incentivos previstos em Lei. Mas a palavra resistir é inerente a essa escola chamada Teatro. Como o rio, a gente segue.

Durante a pandemia da covid-19, artistas foram os primeiros a parar e os últimos a voltar para o formato presencial. Em dois anos e meio, com a necessidade de uma tromba d’água, nosso rio jorrou forte, extrapolou limites, desaguou em todos os lugares do planeta por meio de tecnologias até então usadas como “elementos visuais da cena”. O que criamos nesse período? Teatro-cinema? Teatro audiovisual? Cineteatro? Esse capítulo da história ainda está sendo elaborado para ser contado e estudado nessa incrível escola chamada Teatro.

Ana Nogueira é atriz, jornalista pela UNICAP, arte-educadora pela UFPE e produtora cultural.

Foto: divulgação.

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Ana Nogueira

Atriz, jornalista pela UNICAP, arte-educadora pela UFPE e produtora cultural.

2 Comentários

  • Bem vinda, Ana! Que texto lúcido e igualmente bem vindo! O grande problema do Teatro está mesmo nos olhos anuviados lançados sobre ele, assim como uma das maiores qualidades que ele tem é o efeito sobre os que olham para ele com limpidez de visão e coração aberto.

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