Miami, O Grande Lago, Terra dos Tequesta, 1500

Dias antes do embarque fui pesquisar o que fazer em Miami. A última e primeira vez em que estive lá foi há quase 40 anos e minha única lembrança é a cor roxa do carpete do aeroporto.

Imaginei que poderia realizar, finalmente, minha ida para Cuba, pois estaria a, apenas, uma hora de voo de Havana.

Mas, mesmo com passaporte brasileiro, eu teria dificuldades com o processo do visto porque embarcaria dos EUA. Já que não iria para Cuba, minha primeira visita em Miami foi ao bairro Little Havana.

Dia 1 – Little Havana e Wynwood

Lá se fala espanhol e a comida, a roupa, a música, a dança e os sorrisos são cubanos. Um povo unido que vive e respira da sua cultura e da sua história. Embora deixem claro que não concordam com o governo e sistema de sua pequena grande nação.

A prova disso é o nome do sabor do sorvete Burn in Hell Fidel.

Eu tomei um cafecito às 3h:05min e fiquei na dúvida do que tinha vivido ali entre as galinhas e galos soltos que ciscavam pelas travessas.

PS: quando um(a) fascista brasileiro(a) lhe mandar para Cuba, explique que ofensa brava mesmo é ir para Little Havana.

Para comer e beber do tradicional cubano, vá ao restaurante porto-riquenho:  

El Pub Restaurant – 1548 SW 8th St., Miami, FL 33135.

Para tomar o sorvete Burn in Hell Fidel:

Azucar Ice Cream Company – 1503 SW 8th St. Miami, FL 33135.

Para fumar charuto cubano feito em Miami:

Little Havana Cigar Factory – 1501 SW 8th St., Miami, FL 33135.

Para comprar camisa tradicional cubana:

The Havana Shirt Store – 1421 SW 8th St., Miami, FL 33135.

Para ver cubanos maiores de 50 jogando dominó:

Máximo Gómez Park or Domino Park – 801 SW 15th Ave., Miami, FL 33135.

Nem só Olinda tem galinhas ciscando nas ruas…
Cubanos no dominó em Miami – bem que podia ser em Casa Amarela.

Wynwood

De lá embarquei no Uber, junto com Mekala, em direção a Wynwood Walls.

Mekala é a minha amiga mais recente, tínhamos acabado de nos conhecer durante o tour em Little Havana. Ela veio da Índia para o casamento da prima, aqui na Flórida.

Wynwood Walls é uma novidade que surge: de bairro degradado para bairro gostoso, que se expressa com arte de rua e grafite.

É bonito de ver Bicicleta Sem Freio ocupando o muro todo.

A grama continua sintética e a ganância do mercado imobiliário recém-chegado, já abocanha pedaços do céu.

Para entender mais, vale pagar uns doletas a mais pela visita guiada: www.museum.thewynwoodwalls.com.

Para ver Bicicleta sem Freio no Instagram: @bicicletasemfreio.

Bicicleta Sem Freio

Dia 2 – Miami Beach

Miami Beach me fez revisitar a memória de filmes passados… Caminhar pela calçada vermelha, que proporciona o mesmo glamour de Hollywood, e sentir a brisa à beira-mar.

A arquitetura art déco preservada, que originalmente foi branca e cinza, ganhou paleta de cores vibrantes nas fachadas principais pelos arquitetos Horowitz e Barbara Baer. Isso em 1930. É bonito ver o mar e a areia solta sem nenhuma casa milionária quase dentro d’água.

Art Deco Museum: https://mdpl.org/welcome-center/art-deco-museum/

Vamos a La Playa

Dia 3 – Brickell District e Downtown

É uma competição arquitetônica de qual é o prédio mais alto, com o maior número de ocupações acompanhadas de suas menores sacadas e o maior número de vagas para estacionar carros gigantes.

Tudo isso implantado no menor terreno possível que prometia vista para o mar… Mas, assim que a construção vizinha do mesmo alto padrão foi levantada, tampou não só a vista prometida como o sol que batia na piscina localizada no 19º andar.

Outro fato importante a ressaltar é que as garagens ocupam os primeiros prováveis 10 andares e só depois dos carros, aí sim, começa a moradia dos meros mortais.

Mesmo morando tão alto e sendo traídos pelas promessas não cumpridas do empreendimento, os moradores passeiam felizes com seus doguinhos nas ruas do entorno e demonstram satisfação.

Para comer o melhor ceviche no leite de coco:

Casa Tua Cocina – Brickell City Centre / 70 SW 7th St, Miami, FL 33130.

Para comer bem demais:

II Gabbiano – 335 S Biscayne Blvd, Miami, FL 33131.

A Miami que os brasileiros idolatram.

Dia 4 – Bayside Marketplace

Passei por lá porque estava a caminho do Museu Perez.

Eu estava a pé, estava quente, havia obras e desvios de caminho, me desorientei, não me entendi com as direções do Google Maps. Abandonei o destino planejado e embarquei numa viagem.

Entrei em um barco lotado prestes a sair, com música bate-estaca alta que se misturava com a voz do guia em espanhol. Os drinks eram coloridos e servidos em taças de plástico com minis guarda-chuvas de enfeite e o povo estava animado. O passeio durou 90 minutos e percorreu toda a orla. Desfrutamos da vista completa da cidade e fizemos o famoso tour da casa dos famosos.

Quando o guia apontava a casa do famoso, todos corriam na direção dela para alcançar o melhor ângulo e o melhor selfie. E o barco dava uma tombada naquele sentido por um instante. Além da casa toda fechada e sem nenhum sinal de vida na beira d’água, o famoso tem seu yacht atracado na frente, que ainda carrega um mini-helicóptero e 4 jet skis estacionados. Just in case.

Dia 5 – Everglades

Melhor não passar por isso ou passe por isso.

Se você já visitou o Pantanal, esqueça. O Pantanal é superlativo. A visita aqui é para ver de perto alguns crocodilos, aves e outras espécies nativas.

O passeio de airboat no pântano é bem gostoso e ter um dia longe das construções e sacolas de shopping é revigorante. A boa notícia é que tem um projeto de restauração ambiental em andamento. Querem recuperar o fluxo natural das águas. Vamos torcer.

Everglades

Dia 6 – Miami Design District

Visitei a Galeria La Cruz.

Um casal cubano, colecionador de arte, fundou a galeria. A entrada é grátis e há projetos que incentivam novos artistas. Está estampada ali a paixão e a devoção ao mundo das artes, muito bonito! Que mais colecionadores façam assim. A arte salva.

As lojas de luxo estão espalhadas pelas ruas e delimitadas por jardins milimetricamente cuidados e pensados. As árvores estão sempre em fileiras e tem pendurados muitos relógios coloridos nos galhos. Os bancos estão em toda parte para os momentos de descanso e a tão necessária reflexão.

As lojas mantém as portas fechadas e têm um corrimão portátil de fita preta na frente, o intuito é organizar a entrada. Todo esse aparato intimida sua entrada, então, você só adentra se realmente for comprar. Ali, a maioria das pessoas observa pelo lado de fora e finge normalidade.

Chamam a minha atenção, as mini bolsas Chanel em cores pastéis e lindamente atracadas em cadeados no display de uma vitrine.

No MC Kitchen, almoço uma salada acompanhada com quatro camarões e, de sobremesa, como uma cheese cake com frutas vermelhas. Pago $120,00.  

Para não pagar nada e sair satisfeito:

de la Cruz Collection – A galeria de arte grátis de Rosa Y Carlos de la Cruz, 23 NE 41st St, Miami, FL 33137.

Para pagar caro:

MC Kitchen – 4141 NE 2nd Ave #101a, Miami, FL 33137.

A gente não quer só comida…

Dia 7 – La Pérez Museum

Passe por isso sempre. Quanto mais arte melhor.

Tive a surpresa de muitas crianças brincando e visitando o museu. Aquele som de criança falando e zanzando me deixou feliz. O museu é pequeno e impecável. A arte salva mais uma vez.

Pérez Art Museum Miami – 1103 Biscayne Blvd, Miami, FL 33132.

Bisa Butler, Black is King, 2021.
Leandro Erlich, The Cloud, 2016.

Dia 8 – O retorno

Fui embora com o sentimento de que valeu a pena, gostei do que vivi.

Gracias Miami.

Heloisa dos Devaneios é esta do autorretrato acima. É brasileira e atualmente mora nos Estados Unidos. O momento sócio-político-ambiental caótico e a distância da terra natal, intensificaram o seu desejo de expressão através da arte da escrita. Artista, arquiteta de formação, ela recorre às memórias guardadas, ao momento presente e intuição para inspirar-se. O caminho encontrado por Heloisa dos Devaneios rompe barreiras e nos aproxima. Traz afago e pertencimento.

Fotos: Heloisa dos Devaneios.

Edgard HomemAuthor posts

Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

Sem comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

onze − dois =