A jornalista e cineasta Tathianne Quesado se reinventou e hoje está à frente da confeitaria Vermelho Romã. E ela mesma conta a sua história:

“Tudo começou em 2017, minha família que sempre trabalhou com cinema decide abrir um café, para trabalhar e entender mais sobre grãos especiais.Assim, como as mulheres, minha irmã e sobrinha, produtoras de cinema, também abracei esta profissão, muitas reuniões de produção aconteciam em cafés,venho do Sertão do Estado, e minha família sempre teve o costume do café de tardezinha, pra contemplar esse ícone da agricultura, esta nobre bebida”.

“Em 2017, eu já não me sentia motivada a trabalhar no cinema, passei cinco anos estudando roteiro, foi aí que ganhei a super segurança em escrever o que quer que seja, e esse tornou-se o meu hobbie favorito. Cozinhar sempre foi uma habilidade minha. Aos 8 anos pedi à minha mãe que me ensinasse, e na minha grande família, passei a ser responsável pelo macarrão do almoço diário, que alimentava mais de 13 pessoas, além de mãe pai e irmãos, parentes vinham pra estudar, pois morávamos em Petrolina, que é uma cidade com acesso à educação, diferente da cidade de Serrita, terra dos meus pais, irmãos, donde vinham as primas em busca de melhores oportunidades, e onde está concentrada a minha base familiar”.

“Para cozinhar, eu precisava subir numa cadeira.Aos 9, aprendi a fazer bolo, sem receitas, não era uma brincadeira pra bonecas, aliás, fazia aniversário das bonecas e produzia decoração, bolos e doces, quando as colegas de escola vinham até minha casa estudar para as provas, eu assim que chegava da escola, fazia um bolo para recebê-las, comprava uma Coca-Cola litro retornável, e assim dividia os meus dotes enquanto executávamos trabalhos escolares e estudávamos para os exames.Logo, fui descobrindo as receitas que minha mãe havia decorado e passei a cozinhar pastéis, para a merenda, pontualmente às 15h, mais um costume sertanejo”.

“Parar o tempo, para as crianças se alimentarem e  assim ganharem o mundo em suas atividades: brincar de bonecas, andar de bicicleta, jogar videogames, ouvir músicas, guerra de almofadas, ou pôr as tarefas escolares em dia..Também  nessa fase, montei um pequeno negócio, fabricava 100 sacolés diariamente, e um vizinho com poucas condições financeiras saía pra vender e voltava rapidamente, prestava contas, e as vendas eram rápidas, Petrolina é muito quente, vender geladinhos foi uma boa sacada”.

“Depois passei a vender chocolates e brigadeiros na escola, aos 12, eu ansiava por trabalhar desde a primeira infância e trabalhar com doces era um prazer imenso.Embora que eu achasse tudo muito delicado em confeitaria, não acreditei que seria capaz de fazer doces com planejamento, em um ateliê, criando sabores, texturas, e hoje, sem nenhuma proteína animal. Então, descobri que sim eu consigo lidar com essa leveza, a calmaria que a profissão exige.Eu sempre tive a cozinha como o melhor lugar da casa”.

“Vim morar em Recife, sozinha, sem meus pais, na companhia de amigas, e passei a me interessar ainda mais por comidas de festa, como feijoada, lasanha, tudo isso aprendi em casa, pois viajava para Petrolina bimensalmente.Um dos meus irmãos aguardava ansioso a minha chegada e pedia que eu fizesse um prato, segundo ele o meu tempero era especial”.

“E fui descobrindo que cozinhar passa pela química, é um aprendizado constante, sempre estamos testando, muitas vezes acertamos e surpreendemos com explosão de sabores, noutras dá tudo errado, e precisamos recomeçar, não há tempo pra chorar, reclamar e lamentar, lidamos com os sentidos do cliente, uma expectativa em relação a beleza, sabores, textura, aromas, uma série de fatores é levada em consideração, principalmente em alta gastronomia saudável, o meu sonho, a minha nova profissão”.

“Então diante dessa história recebo o convite de Stella e Héllyda, propietárias do Café Lumiére, para inicialmente produzir os bolos, e desse convite que não aceitei de imediato, pois o meu foco sempre foi cozinhar para amigos e familiares, decidi então investir em cursos, estou agora no quarto curso, e sei que ainda tenho muito o que aprender, Fiz do Café Lumiére meu laboratório e fui sugerindo variedades de doces, sobremesas, tive um grande incentivo de Stella, nessa área de doces para festas, pois ela também teve essa profissão de produzir doces maravilhosos, eu lembro muito desta fase, amava estar junto enquanto ela produzia”.

“O ano era 1986.A minha sede de conhecimento trouxe-me o interesse em investir, trabalhar mais, e me dedicar somente ao projeto de confeitaria, e assim aliei meus dotes de comunicóloga á produção gastronômica, investi na divulgação e lancei o projeto para o mundo.Esse nome foi escolhido através da paleta de cores que eu sugeri à designer, comecei com outro nome, mas ele perdeu o sentido, primeiro porque era em inglês, e isso dificultava as vendas, uma pronúncia difícil, uma procura pequena. Por que o nome da fruta Romã? Essa foi a cor que me atraiu na paleta, também por ser uma fruta que traz significados positivos, eu cresci sabendo que dela tudo se aproveita”.

“Vovó sempre tratou seus filhos e netos com a medicina das plantas.Porque vegana e inclusiva? Eu conheci a macrobiótica aos 18 anos, e a minha consciência alimentar vem desde a década de 1990, cortei o refrigerante, refinados, alimentos sem propriedades nutritivas, e tornei-me vegetariana. Foram sete anos dedicada a uma alimentação mais saudável. Até que minha Mãe foi envelhecendo e trazendo pratos sertanejos, como a galinha de capoeira, pernil de bode, suas memórias afloraram, era sua maneira de trazer o sertão para a capital, para a sua mesa, e então decidi embarcar em suas emoções”.

“Ela partiu, e o veganismo chegou em mim, como ativismo, necessário,  voltei a ser vegetariana, marquei todos os exames final de fevereiro para que minha nutricionista avaliasse a minha transição para o veganismo, e veio a quarentena”.

“A Vermelho Romã, é uma soma de diversos fatores, e o mais importante, é ser hoje uma semente plantada com muito afeto, junto a família no café Lumiére. confesso que temos um longo caminho pela frente e fazemos da confeitaria um ato de amor com os animais, mas principalmente com os clientes, pois temos opções sem açúcar, sem glúten, com oleoginoas raras, sem conservantes, e o mais importante é a conversa prévia onde deixamos bem claro que tenho uma carta com sugestões, mas procuro saber quais os sabores preferidos da clientela e assim desenho projetos, desde encomendas mais simples como sorvetes e cookies até um bolo com buttercream para casamentos, aniversários e afins”.

A Vermelho Romã está com uma campanha de vouchers e as informações estão na própria imagem:

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Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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