Depois do sucesso de Tudo é rio/2014 e A natureza da mordida/2018, a escritora lança pela Editora Record sua 3ª obra, em que mergulha no drama de dois gêmeos que se casam com duas amigas de infância.

Na literatura dificilmente um grande sucesso de público e de crítica, como é o caso de Tudo é rio/2014, é por acaso. A escritora mineira Carla Madeira, autora também de A natureza da mordida/2018, tem um domínio na criação de histórias e de personagens que encanta a todos. Roberto Lacerda afirma que os personagens da escritora “parecem estar vivos diante de nós. As emoções que sentem são palpáveis e suas reações, autênticas”.

É com este dom e criatividade que Carla Madeira nos brinda com seu terceiro romance, Véspera, lançado pela Editora Record, em que põe a nu um núcleo familiar formado por uma mãe superprotetora, um pai alcoolista, dois irmãos gêmeos e suas respectivas namoradas e esposas. Se no romance de estreia Carla inova com seu estilo de escrita, em Véspera o inusitado está na forma de narrar: a trama é contada em dois momentos, num passado mais próximo e outro momento num passado mais longínquo/remoto.  O leitor precisa de muita atenção no início para compreender como os fatos se conectam; mas depois do estranhamento inicial, a narrativa flui e o leitor vai montando as peças do quebra cabeça.

“Às vezes, é preciso ir longe para chegar vindo de trás e alcançar a véspera da véspera da véspera do acontecimento. Vamos ao começo.”

O pensamento acima contido no prólogo, Antes do começo, dá uma pista de como será a narrativa: no primeiro capítulo a história narra um passado mais próximo, em que Vedina está no auge de sua crise conjugal com Abel; nervosa, ela acorda o filho de cinco anos, Augusto, para levá-lo à escola e ele, muito ativo, joga futebol na sala e quebra louças da cristaleira. Desnorteada Vedina pega o garoto e vão para o carro, mas ele não para um segundo. Conclusão: num ato desmedido, Vedina estaciona o carro e deixa o filho na calçada e sai em disparada. Imediatamente arrependida, ela precisa dar uma volta no quarteirão para pegar o filho novamente, mas ao chegar o garoto não está mais lá.

Um salto na história e o capítulo seguinte (número 18) se passa num passado remoto. Custódia casa-se com Antunes e depois de um tempo nascem os gêmeos; o atrito entre o casal só se acentua quando Custódia fica sabendo que ao invés dos nomes de sua preferência, Antunes batizou os filhos como Caim e Abel. As discussões entre o casal nunca cessam.

O capítulo seguinte (número 2) dá sequência ao drama de Vedina; este segmento é sempre menor. O outro capítulo (de número 17) continua o cotidiano da vida daquele núcleo familiar (Custódia, Antunes e os gêmeos), sendo sempre maior, pois narra o crescimento dos meninos até a fase adulta.

Relatando desta forma parece muito confuso este esquema narrativo; para auxiliar, fiz uma anotação à parte de cada segmento, mas a autora aos poucos vai dando pistas e o leitor logo consegue montar o quebra cabeça. Os capítulos de Vedina vão em ordem crescente, já os de Custódia em ordem decrescente.

“Como duas ondas que avançam até se chocar, quando então se iluminam, o passado remoto nos conta a história de dois irmãos gêmeos, de seus pais, amigos e de suas respectivas namoradas; enquanto o passado próximo nos descreve o resultado de tudo que foi vivido na juventude”, explica Roberto Lacerda na orelha do livro.

Além da forma criativa ao narrar, outra característica da escritora mineira presente na obra é a construção dos personagens: como são apresentados de forma entrecortada no tempo, o leitor vai construindo o perfil psicológico de cada personagem. Há uma aura de mistério e suspense, principalmente com relação a Abel. O final surpreende a todos e cada leitor é obrigado a criar um desfecho da trama. A autora em cada capítulo traz uma epígrafe (a maior parte delas de sua autoria), que ajuda na compreensão do capítulo. Fecho a resenha com uma de suas epígrafes:

“Se nos quisesse perfeitos nos fizesse perfeitos”.

Ficha técnica:

Título: Véspera

Autor: Carla Madeira

Editora: Record

Página: 280

Preço: R$47,90

A capa.
A autora.

Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada. Fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa. Hoje mora no Recife e, aqui no Blog Edgard Homem, escreve sobre a literatura produzida por autores brasileiros. Maurício também tem um espaço só seu: vai lá no www.favodomellone.com.br.

Fotos: divulgação.

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Maurício Mellone

Jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

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