O multiartista nascido no Recife — além de escritor, é músico, astrólogo e produtor cultural —, Bruno Albuquerque, lançou em dezembro último seu segundo livro de poesias. Motim, editado pela Ases da Literatura, reúne mais de 200 poemas criados nos últimos 20 anos. Segundo o autor, a obra, com capa e ilustrações de Marcela L’Amour, revela três de suas características de estilo:

“Este livro traz três perspectivas que acompanham minha escrita: a metalinguagem e o seu lado filosófico, a indignação com injustiças e a possibilidade de dar notoriedade às nossas vozes internas”, diz Bruno Albuquerque.

Em 2000, de forma independente, ele lançou seu primeiro livro de poesias, DiVerso inVerso. Hoje aos 45 anos, o escritor confessa que sua escrita transmite suas mudanças internas. “Comecei a me preocupar em escrever contra a opressão colonial que nos aprisiona”.

Em Motim os poemas são intercalados com textos em prosa poética, que não só introduzem as poesias como traduzem a alma do poeta:

“Esse que se pensa eu-de-agora, orientando os eus in lettera registrados há bem vinte anos, os afetos a tiracolo. Não dá para precisar, nem pra orientar. Mas é preciso, é parte quiçá do (mau quisto) movimento de conservação que somos.”

A influência da poesia concreta fica evidente no trabalho de Bruno, que também usa uma técnica peculiar: os títulos dos poemas funcionam como mote do que vem a seguir:

“Quanto escalpa

 Cada palavra

 Até que sangremos

 Sem metáfora?”

“em meu poder transitório

 eu mergulho meu poder transitório

 eu entulho meu poder transitório

 eu embrulho meu poder transitório

 eu engulo meu poder transitório”

Na orelha do livro o texto que faz uma apresentação do autor diz que Bruno Albuquerque é navegante por profissão, que “os sete mares o forjaram antes como marinheiro, logo como piloto da marinha mercante (Universidad Andres Bello, no Chile). Daí que várias poesias têm como tema os mares e outras foram criadas em espanhol:

“a figura que passeia no meu barco

 e me habita o quintal de alguns desejos

 parece não gostar dos meus passeios

 meu devaneio lhe incomoda

 sempre que aparece”

“Las cosas em que pienso

 Mientras (aún) estoy sem ti

 Tu pies

 Y todo el placer que los puedo ofrecer

 Una manera de decirte

 El amor que siento em alma”

Impossível numa resenha transmitir todos os “eus” do poeta, suas facetas e visões do mundo. Seu lado lírico é muito presente, assim como sua visão política e crítica. Num poema fica evidente sua acidez diante da realidade:

“vende-se o braZil com tudo dentro

 PB préZal

 pretas pobres pretos

 índias pobres trans

 carne queimada a fole a rodo

 aRRoto de quem pode”

Para finalizar, o tom filosófico e existencial de Bruno Albuquerque, que prepara o disco Contratirania a ser lançado em breve, unindo a poesia com melodia.

“Pra cada farsa

 Uma força

 Que a desfaça

 Pra cada trama

 Uma cama limpa clara

 Branca”

Ficha técnica:

Título: Motim

Autor: Bruno Albuquerque

Editora: Ases da Literatura, 276 pgs

Preço: R$64,90

O autor da resenha.

Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo: rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

Foto em destaque, Bruno Albuquerque: Rayanne Moraes.

Demais imagens: divulgação.

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Maurício Mellone

Jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

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