Olindense da comunidade do Monte, Vanderson Ferreira mora no bairro do Coqueiral, próximo ao Sancho e Tejipió, no Recife. Tem 37 anos e trabalha como porteiro na Escola Brigadeiro Eduardo Gomes, em Boa Viagem, na Barão de Souza Leão.

Ainda era manhã quando Vanderson perguntou por Rosa Maria na recepção do Hotel Central, o primeiro arranha-céu da capital e que, em algum lugar do passado, foi lar de Miró.

No Central, o poeta escreveu seu último livro: O Céu é no 6º Andar.

E também de lá, partiu para o mundo astral aos 61 anos (domingo, 31 de julho de 2022).

Rosa Maria cuidou dele como quem cuida do prédio quase secular, ambos filhos.  

Em algum lugar do passado, Vanderson pegou o Circular/Prefeitura na Estação Recife, terminal integrado metrô/ônibus que fica no Bairro de São José.

O Shopping Tacaruna era o destino, pois lá pagaria mais uma fatura do cartão Hiper.

No coletivo, reconheceu Miró pela roupa: ‘Uma calça de estamparia africana, bata e colar’. Quando o poeta ficou de pé para pedir parada, Vanderson recitou: ‘Janela de ônibus nos faz pensar, ainda mais quando a viagem é longa’.

Miró sorriu, tirou um envelope da pasta e disse: Tome, é seu.

‘Quando eu abri e vi 20 – Para Pensar um Pouco, foi só alegria! Isso foi antes da pandemia, antes de 2020’.

Alegria socializada. Vanderson trouxe o seu exemplar e nós xerocamos -conhecemos mais um livro de João Flávio Cordeiro da Silva, o danado Miró da Muribeca.

Tímido, mas bom palestrante, contou que desde os 17 milita no Movimento Negro Unificado, que fez parte da diretoria do afoxé Alafin Oyó, que tocou com Naná Vasconcelos e que conheceu o trovador nas resistências da vida.  

Vanderson quer fazer História. Ser professor de História.

Por quê?

‘Se você não tem História, você não viveu’.

Perguntei-me dias, sobre o acontecido no foyer.

Até que entendi que Miró nos visitou para revelar que a vida é para sempre, que o universo é pura poesia e que desistir é ilusão.

Mais sobre 20 – Para Pensar um Pouco

Editado de forma independente, sem encadernação, a obra em formato de envelope traz 20 versos em folhas avulsas + 1 de Wilson Araújo: ‘Existe abismo maior/Que cair no esquecimento?’  

Produziu com o intuito de levar algo novo para a Semana do Livro de Pernambuco de 2016, onde esteve em 4 de dezembro.

Li numa entrevista, dito pelo autor, que em princípio foram 150 exemplares. Apenas.  

Fotos: divulgação.

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Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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