Dayse Pontes eu conheço de outros carnavais. Não consigo precisar onde e quando a conheci, mas sei que é de um tempo, até próximo, cronologicamente medindo, mas tão longínquo, perdido mesmo, em seu jeito de funcionar, de relacionar-se, de como percebíamos a nós mesmos e ao outro… O mundo era binário. Por aí você tira.

Lembro da Galeria 40, no Pina (moeu até 2014). Era dela e de Crioulo. Lembro que chamei aquele lugar de bolha. Foi assim decodifiquei a energia daquele canto, obviamente impregnado da energia vanguardista de Dayse.  

As determinações da vida trouxeram-me Dayse de volta ao radar e apesar das águas singradas, continuo com a mesma impressão dela.

Há pouco, em visita ao seu ateliê-escola, deparei-me com os quadros da sua nova série: Da Inaceitação ao Belo. Iniciada em 2022, filha da pandemia, Da Inaceitação ao Belo entrou em fase de conclusão.

O título diz tudo: há perplexidade com o momento – e quem não está perplexo?

Todavia, a artista fia-se ao belo, ao final feliz. Não abrir mão da luz no fim do túnel é, sinto eu, onde mora a assinatura de Dayse Pontes.   

Seus óleos sobre tela incomodam e acalentam pela beleza assumida, pela ingenuidade como pano de fundo, pela técnica apurada e por eventuais vômitos. Ela tem digital e ter digital é vanguarda – sempre foi.

Conhecendo melhor

‘Comecei a desenhar, meio que compulsivamente, aos 7 anos de idade. Repeti a primeira série, por, basicamente, não anotar as aulas de matemática e só desenhar nos cadernos.

Aos 11 anos, fiquei doente e fui hospitalizada. Para passar o tempo, meu pai me deu uma caixa de massa de modelar. Após o dia de trabalho, veio me visitar e, quando chegou no hospital, deparou-se com um zoológico… Eu tinha modelado vários animais.

Impressionado, deu-se conta que tinha que investir na minha educação artística, ao lado da educação formal’.

‘Profissionalmente, considero que comecei a desenhar e pintar há 18 anos, mas estudo arte de uma forma sistemática desde 1979’.

‘Fiz Direito. Graduei-me e obtive o registro da OAB aos 22 anos, porém, com pouco mais de um ano, eu abandonei o mundo jurídico. Julgo muito importante essa formação acadêmica, ampliou minha visão de mundo’.

Era uma vez nas profundezas do oceano uma menina peixe – 30cm x 30cm, óleo sobre tela, 2018.
Luz – 1.12cm x 90cm, óleo sobre tela, 2023.

Pegadas

A pernambucana Dayse tem estrada.

Em 2017, na Potrich Galeria de Arte, em Goiânia, participa da mostra Nosotros – A Arte e o Corpo Humano. Expôs ao lado do goiano Siron Franco, do carioca Alex Fleming, do português Antônio Poteiro, entre outras assinaturas.   

Antes, em junho de 2015, no Museu da Cidade do Recife, foi selecionada para a coletiva Fuori de Lingua – ao todo, o júri constituído convocou 60 nomes, 30 italianos e 30 brasileiros.

Voltando ainda mais, a individual Espelho ocorreu entre 10 e 23 de dezembro de 2012, no Nez Bistrô, Boa Viagem, Recife. A também artista visual Badida, mais que querida, assinou o texto de apresentação.  

Para saber mais, acesse: @dpontes_arte e @daysepontes21

Dayse Pontes, em duas versões, na Galeria 40. A bolha.

E porque perguntar não ofende…

Dayse, o que é arte?

Arte não é, arte é o que parece ser.

Como você define a arte que você faz? E o que faz enquanto profissional do ofício?

A arte que eu faço, eu defino como cênica. Há uma grande dose do imaginário teatral e nuances de ludicidade.

Além de desenhar e pintar, eu dou aulas de pintura e desenho.

Quem lhe inspira?

Na forma de pintar, inspira-me Leonardo da Vinci, que criou o sfumato, e Caravaggio.  No desenho, o francês Charles Bargue. Os três são os meus mestres preferidos.

Admiro muito o paraibano João Câmara e, daqui de Pernambuco, aprecio demais Kilian Glasner, Gil Viente e Renato Valle.

Caso pudesse, escolheria ser outra coisa?

Eu não consigo me imaginar em outra ocupação nesta vida, que não seja a arte. É uma das razões dos meus dias.

Um desejo é aprender a esculpir. Caso pudesse, eu escolheria ser escultora, mas isto ainda está na arte.

Começando por Diane Arbus – 50cm x 40cm, óleo sobre tela, 2018.

Por fim, estamos no aguardo do local e data da abertura da exposição Da Inaceitação ao Belo.

E que a beleza, em toda sua amplitude de significados, seja direito adquirido – que seja vivenciada pela infinita multiplicidade dos seres deste e de mundos além.

Imagem em destaque: Dayse Pontes com o díptico Kriã – técnica mista, 2m x 1m, fins de 2021. Pode-se dizer que inaugurou a Da Inaceitação ao Belo.  

Fotos: todas são divulgação.  

Edgard HomemAuthor posts

Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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