Lançado pela Ficções Editora, o livro acompanha a vida de Mariano, um amante dos livros, da infância e adolescência à fase adulta. A obra faz um perfil da favela, com um retrato de seus habitantes.

Eis o autor.

Nascido em 1990 na cidade paulista de Itapecerica da Serra, Wesley Barbosa é autor de três coletâneas de contos e acaba de lançar pela Ficções Editora seu primeiro romance, Viela Ensanguentada.

Num registro da infância, adolescência e início da vida adulta de Mariano — narrador e personagem central da trama —, a obra traz muito do universo do escritor, que morou numa favela e estudou até o ensino médio; como estagiário de uma biblioteca municipal tornou-se amante dos livros e a literatura de sonho passou a ser seu meio de vida.

Uma viela, um beco, com seus personagens das mais variadas funções (o dono do ferro velho, a mãe de santo, os rapazes encostados no muro que vendem o ‘bagulho’, o dono da mercearia, a bibliotecária, além da avó e da mãe de Mariano) formam não só o cenário do livro como são o espelho da vida de Wesley Barbosa.

“Realidade ensanguentada/

Realidade baleada na favela/

Realidade feita de corpos negros/

Corpos de homens e mulheres

Jogados na viela da periferia.”

Este trecho do poema que abre o livro é o prenúncio da trama a ser relatada. A obra é dividida em duas partes, cada uma delas com capítulos bem curtos, que revelam o cotidiano de Mariano, um garoto que passa as férias na casa da avó Isabel, uma senhora evangélica que frequenta a igreja do pastor Cristovão. Aos poucos, por meio das andanças do menino pela favela, os personagens do lugar são apresentados, assim como o clima de terror, medo e apreensão.

“…lembrei que muitas vezes podiam se ver os carros da polícia invadindo as ruas da favela e os policiais enquadrando os meninos da minha idade, que estavam jogando bola na rua. Davam coronhadas na cabeça deles, mandando que se encostassem à parede, e os revistavam de um modo bastante brutal.”

Mariano mora com a mãe, que trabalha exaustivamente, o que deixa o garoto com o tempo livre, já que abandonou a escola. No entanto, ele tem como maior diversão os livros da biblioteca pública: passa horas lendo tudo o que consegue. Mas na volta pra casa tem de passar pela viela, em que Mosca Morta, Olho-de-Peixe e o Cara que nunca diz nada ficam consumindo e vendendo maconha.

Nesta primeira parte do livro, o leitor tem a chance de observar o crescimento de Mariano, a passagem da infância para a adolescência e, principalmente, a perda da inocência dele, já que é obrigado a presenciar um brutal assassinato.

“A tragédia ria todos os dias em que abria os olhos e via à minha volta a falta de comida e o miserê de outras pessoas iguais a mim, mas também eu tinha algo ao meu favor: a leitura!”

Antes de iniciar a segunda parte, o narrador — alter ego do escritor — diz que se pudesse voltar no tempo diria ao “menino franzino e raquítico que jamais, em hipótese alguma, abandonasse os livros, ou deixasse de ser curioso.”

Depois de fazer bicos para ganhar algum dinheiro — catava latinha e ferro velho, numa alusão ao clássico Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus—, Mariano consegue um trabalho: com Chocolate, filho do pedreiro Ernesto, passa a ajudar na construção das casas da favela. Podendo ajudar em casa e comprar sapato e roupas, Mariano tem uma melhora de vida. No entanto, a favela (como sugere o título do livro) não tem a mesma sorte: a violência atinge a todos, sem distinção. A realidade, nua e crua, atinge o garoto/homem de maneira incontestável. Entretanto, Mariano assim como Wesley, foram salvos pela palavra:

“Fui chamado de vagabundo, de preguiçoso…Riram dos meus sonhos e, se fosse possível, tirariam da minha cabeça a ideia maluca de me tornar escritor, mas felizmente jamais será possível jogar na lata do lixo as palavras que eu lia e aprendia nos livros.”

História comovente e infelizmente muito atual. A vida nas comunidades das grandes cidades brasileiras vem se modificando, graças ao esforço e ao empenho da maioria dos moradores. Porém o tráfico de drogas, a milícia (grupos de ex-policiais que agem contra os traficantes, mas são forças criminosas) e a violência desmedida ainda sobressaem nas favelas brasileiras. Viela Ensanguentada é mais uma obra, escrita por uma pessoa de dentro da favela, que denuncia o abuso e a violência porque passam os moradores destas comunidades.

Ficha técnica:                                                        

Título: Viela Ensanguentada

Autor: Wesley Barbosa

Editora: Ficções, 120 pgs

Preço: R$ 60,00

Venda: Instagram – @barbosaescritor

Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada. Fez carreira na imprensa de São Paulo – rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa. Hoje mora no Recife e, aqui no Blog Edgard Homem, escreve sobre a literatura produzida por autores brasileiros. Maurício também tem um espaço só seu: vai lá no www.favodomellone.com.br.

Fotos: divulgação.

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Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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