O escritor pernambucano Marcelo Peixoto, autor de obras de poesia e de contos, acaba de lançar pelo selo Mirada, Ava Gardner – nunca disse te amei. São 16 histórias com temática LGBTQIA+, a maioria ambientada no Recife. Mas há tramas que se passam no Rio de Janeiro e outras cidades pelo mundo.

O prefácio é assinado por Anco Márcio Tenório Vieira, que logo argumenta sobre o estilo de linguagem de Marcelo Peixoto, ou seja, as omissões de pontuação e termos nas frases (verbo, conjunção, artigo, substantivo, preposição).

“As supressões explicitam os não ditos, as insuficiências linguísticas do narrador. Essas insuficiências terminam por produzir um silêncio. Esse silêncio termina intimando o leitor a sair da sua posição passiva e se inscrever, como se narrador fosse, nas tramas e ações. Cabe ao leitor o esforço cognitivo de suprir as elipses e insuficiências linguísticas deste Ava Gardner – nunca disse te amei”, diz Anco Márcio.

Formado em Sociologia e política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcelo Peixoto é autor de dois livros de poesia, Pastor da solidão e Solidão quebrada e outros dois de contos, Ai quem me dera beijar os lábios de Doroty Lamour e Cemitério de canários. Na obra que acaba de lançar, ele reuniu 16 contos, divididos em quatro capítulos, Primavera, Verão, Outono e Outra estação (até no título do capítulo exige que o leitor participe), cada um com quatro histórias.

O que mais chama a atenção no estilo do escritor pernambucano é mesmo a omissão, tanto de pontuação como de termos nas frases. O leitor sente um estranhamento inicial, mas com o desenrolar das histórias se acostuma e, como argumenta Tenório Vieira no prefácio, “se inscreve como se narrador fosse”. Quem lê passa a participar do enredo, torna-se cúmplice do conto.

“Casamento acontecimento ano colunas sociais. Foi como devia. Divino. Ele alto branco cabelos negros. Ela loira olhos azuis. Par perfeito comentavam convidados”.

Além da ambientação dos contos ser bem distinta, os temas e o humor das histórias chegam a ser opostos. Da ironia e sarcasmo ao lirismo e à dor profunda. Na contracapa do livro, a gestora cultural Silvana Meireles aponta: “Na tessitura das histórias, a ironia é um elemento marcante, e o autor parece se mover entre a dureza e o humor mordaz, usando a linguagem concisa como sua aliada”.

Em Anja, conto que abre o livro, a história contada em apenas 25 linhas traz temas densos — machismo, homofobia, violência doméstica e coronelismo do Nordeste — sendo escancarados, como crítica:

“— Você aprender virar macho! Nem que seja marra! Prefiro filho marginal invés veado!”.

Tom engraçado, de pilhéria, aparece em outros contos, como em Eram primos eram jovens, em que dois rapazes são flagrados na cama e com o susto ficam “engatados”, um no outro! “Susto provocou espasmo denso. Prendeu pau seu corpo. Alvoroço pela casa…”.

No conto que encerra a obra, Feliz aniversário Stonewall, o autor se coloca como personagem, numa trama histórica que remonta o horror do início da Aids, quando não havia medicamentos e o HIV era um passaporte fatal para a comunidade LGBTQIA+. A dor perpassa por toda a história, com os personagens vivendo em várias cidades, como Recife, Rio, São Paulo, Nova York. Novamente linguagem lacônica se destaca, poucas palavras que omitem uma enxurrada de sentimentos:

 “New morreu. Telefonaram informando. 16h enterro. Respondeu negando comparecer. Guardará fotografias — lembranças boas.”

Histórias multifacetadas, rico mosaico de personagens que retratam o universo de gays, lésbicas, travestis e transexuais. No entanto, tenho que confessar: o que é visto como original — a omissão de termos nas frases — começa a cansar, justamente por usar este recurso em demasia. O leitor é chamado a participar das tramas, mas também pode ficar cansado com tantas supressões e omissões.

Ficha técnica:

Título: Ava Gardner – nunca disse te amei

Autor: Marcelo Peixoto

Editora: Mirada, 158 pgs

Preço: R$40,00

Venda: WhatsApp (81) 9 9379.7711

PS: Maurício Mellone é jornalista com mais de 40 anos de estrada, fez carreira na imprensa de São Paulo: rádio, TV, impresso e assessoria de imprensa.

Imagens: divulgação.

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Edgard Homem

Por aqui transitam a arte e a cultura, o social – porque é imprescindível dar uma pinta de vez em quando, as viagens, a gastronomia e etc. e tal.

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